Jango e JK grampeados
A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, menos de sete meses após tomar posse, desencadeou uma crise no governo que beirou a ruptura constitucional. No momento da renúncia, o vice-presidente, João Goulart, o Jango, estava em viagem diplomática à China comunista. Ao retornar ao Brasil, teve de enfrentar a resistência dos ministros militares, que queriam impedir que ele assumisse a Presidência, então ocupada interinamente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, menos de sete meses após tomar posse, desencadeou uma crise no governo que beirou a ruptura constitucional. No momento da renúncia, o vice-presidente, João Goulart, o Jango, estava em viagem diplomática à China comunista. Ao retornar ao Brasil, teve de enfrentar a resistência dos ministros militares, que queriam impedir que ele assumisse a Presidência, então ocupada interinamente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
Mazzilli era acompanhado de perto pelo recém-nomeado chefe do Gabinete Militar, general Ernesto Geisel, que, durante a crise, dormia no Palácio do Planalto em uma cama de campanha. Ele acumulava esse cargo com o comando das tropas de Brasília. Do Palácio do Planalto, Geisel operava duas equipes de escuta telefônica. Uma funcionava no Rio de Janeiro, captando as conversas que passavam pelos cabos internacionais da Rádio Internacional do Brasil (Radional). Essa rede captava todas as ligações de Jango, as que ele recebia e as que ele fazia.
Outra equipe trabalhava no próprio Palácio, liderada pelo capitão de mar e guerra Floriano Faria Lima e formada por oficiais do Gabinete Militar, que ouviam as conversas com fones de ouvido. Uma dessas conversas, entre Jango e o ex-presidente Juscelino Kubitschek, foi transcrita em duas folhas de um bloco de notas. Nela, JK aconselhava Jango a “aproveitar a mobilização popular e não perder sua liderança”. Prevenia ainda o vice-presidente para que chegasse na “2a feira para tomar posse”, a fim de evitar uma “imobilização de tudo”.
Faria Lima seria, posteriormente, o primeiro governador após a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Em 1986, ele revelaria que as escutas eram feitas pelos tenentes-coronéis Leônidas Pires Gonçalves e Ivan de Souza Mendes, versão confirmada por Geisel. Já Souza Mendes negaria veementemente. Leônidas, por sua vez, negaria que monitorasse as conversas, mas confirmaria que Souza Mendes as ouvia. Faria Lima guardou os originais dessas transcrições dizendo que “era coisa para seus netos”. Ele morreu em 2011 sem que se saiba o destino dos documentos.