Jango inseguro em Montevidéu
O vice-presidente da República, João Goulart, o Jango, ainda não tinha retornado de sua viagem à China comunista quando soube, na manhã de 26 de agosto de 1961, que Jânio Quadros havia renunciado na véspera ao cargo de presidente do Brasil. Jango voou para Paris, de lá para Nova York e, depois, para Montevidéu, pois se pisasse no Brasil seria preso. Desde o início da crise política que se instalara no país, oficiais do Exército grampeavam suas comunicações telefônicas.
O vice-presidente da República, João Goulart, o Jango, ainda não tinha retornado de sua viagem à China comunista quando soube, na manhã de 26 de agosto de 1961, que Jânio Quadros havia renunciado na véspera ao cargo de presidente do Brasil. Jango voou para Paris, de lá para Nova York e, depois, para Montevidéu, pois se pisasse no Brasil seria preso. Desde o início da crise política que se instalara no país, oficiais do Exército grampeavam suas comunicações telefônicas.
Uma folha de bloco com os tópicos do que deve ter sido uma conversa por telefone [leia a seguir] entre Jango, ainda em Montevidéu, e o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, este no Brasil, às 10h05 de 5 de setembro de 1961, no fragor da crise provocada pela renúncia de Jânio, revela quão delicada era a situação de Jango. E do país.
“AURO – ALERTANDO QUE A SITUAÇÃO EM BRASÍLIA ERA INCERTA E JANGO NÃO DEVERIA VIR SEM GARANTIAS, LEMBROU A POSSIBILIDADE DO AVIÃO SER INTERCEPTADO E LEVADO PARA LOCAL DESCONHECIDO
JANGO – ESPERA NOVOS ESCLARECIMENTOS PARA DECIDIR. DESEJANDO VIAJAR PARA NÃO PROLONGAR A SITUAÇÃO”
A renúncia de Jânio colocara o país de imediato em grande expectativa, pois os ministros militares se opunham à posse do vice, considerado muito próximo dos sindicatos e das esquerdas. A solução para o impasse acabou sendo um remendo: sagrar Jango presidente, em 7 de setembro de 1961, mas com poderes limitados, dentro de um sistema parlamentarista. Somente em janeiro de 1963, quando o presidencialismo venceu o parlamentarismo por meio de um plebiscito, Jango assumiria a Presidência de fato.
O curto documento, acima transcrito, parece ser o único sobrevivente dos vários “grampos” daquela época em torno de Jango. As operações de escuta eram coordenadas pelo capitão de mar e guerra Floriano Faria Lima, que mais tarde seria o primeiro governador do Rio de Janeiro após a fusão com o estado da Guanabara. Ele contou que guardava todas as interceptações. Dizia que “era coisa para meus netos”. Até hoje esses papéis não foram encontrados.