O desencontro de informações na ditadura
Em 27 de dezembro de 1975, um amigo de Heitor Ferreira, secretário particular do presidente Geisel, escreveu ao palácio do Planalto uma carta de quatro páginas. A missiva era assinada pelo geólogo holandês Hein Robert Korpershoek, detido pela polícia um mês antes, durante uma viagem de trabalho pela Transamazônica, no trecho que segue até Belém.
Em 27 de dezembro de 1975, um amigo de Heitor Ferreira, secretário particular do presidente Geisel, escreveu ao palácio do Planalto uma carta de quatro páginas. A missiva era assinada pelo geólogo holandês Hein Robert Korpershoek, detido pela polícia um mês antes, durante uma viagem de trabalho pela Transamazônica, no trecho que segue até Belém.
Korpershoek relatou ter sido detido junto com quatro brasileiros. Contou que cada um deles fora jogado em uma cela individual e depois removido para um espaço comum. Ficaram incomunicáveis por uma semana e seu material de trabalho fora apreendido. Apesar disso, não escrevia para reclamar sobre a prisão em si, pois era a favor de medidas contra a subversão. Suas maiores queixas diziam respeito à sua incomunicabilidade e ao fato de não terem avisado a embaixada holandesa sobre sua situação.
Em carta ao presidente Geisel, Heitor contou a história de Korpershoek e falou sobre a amizade entre eles. “Respondo inteiramente por ele e acho lamentável o que aconteceu”, declarou, sugerindo que o episódio fosse apurado e o material apreendido devolvido ao geólogo.
A apuração não rendeu muito. A análise que Newton Cruz, chefe da Agência Central do SNI, fez evidenciou os problemas do sistema de informações. Afinal, segundo Cruz, “o documento anexo, a rigor, não é uma informação”:
O 51o Batalhão de Infantaria, que é parte interessada, responde através de meias verdades (o fato principal cercado de uma “história de cobertura”), a 8a Região Militar passa adiante a resposta do 51o Batalhão de Infantaria, a Agência de Belém encaminha a mesma resposta e, finalmente, a Agência Central nos transmite as suas conclusões, que nada mais são que os dados originários de Altamira (51o Batalhão de Infantaria). (...) É o “samba do crioulo doido”...