Uma bomba chega ao Planalto
A violência contra a chamada “imprensa nanica” — formada por pequenas publicações semanais e até mensais — intensificou-se no início do governo João Baptista Figueiredo (1979-1985), com ataques à bomba a redações clandestinas e bancas de jornal. Àquela altura, os militares já haviam contido o surto terrorista de esquerda e desarticulado a Guerrilha do Araguaia, porém, a máquina repressora, embora com menor contingente, continuava ativa e precisava de justificativas para existir.
A violência contra a chamada “imprensa nanica” — formada por pequenas publicações semanais e até mensais — intensificou-se no início do governo João Baptista Figueiredo (1979-1985), com ataques à bomba a redações clandestinas e bancas de jornal. Àquela altura, os militares já haviam contido o surto terrorista de esquerda e desarticulado a Guerrilha do Araguaia, porém, a máquina repressora, embora com menor contingente, continuava ativa e precisava de justificativas para existir.
A “imprensa nanica” divulgava opiniões e informações que desagradavam ao governo e à “tigrada” do aparelho repressivo. As retaliações vinham na forma de um conjunto de táticas intimidadoras: invasões, espancamentos, prisões, ameaças e explosões de bombas. O semanário Movimento, por exemplo, que chegara a uma tiragem de 20 mil exemplares no final de 1978, vendia menos de 5 mil no final de 1980.
Em 1979, quando o Em Tempo listou 233 militares e civis acusados de terem torturado presos, sua redação foi depredada. Os dois jornais alternativos mais populares, Pasquim e Opinião, também receberam bombas, além do Hora do Povo, atacado a bomba em pelo menos quatro ocasiões. Jornaleiros recebiam listas com as publicações que não deveriam vender e pode-se estimar que, entre 1978 e 1981, foram explodidas ou incendiadas mais de cem bancas de jornal em uma dezena de cidades.
Um desses casos chegou ao Planalto. O chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva, recebeu uma carta datada de 20 de setembro de 1980 endereçada ao presidente Figueiredo. Nela, um policial lotado na 28ª Delegacia do Rio de Janeiro comunicava, anonimamente, a explosão de uma banca de jornal no bairro Campinho. Segundo ele, um transeunte viu quando um senhor saiu de uma camionete vermelha e colocou um pacote debaixo da banca, que, logo depois, explodiu. A testemunha anotou a placa do carro e foi à delegacia comunicar o fato.
Descobriu-se, então, “que o carro pertencia ao I Exército, mais precisamente, ao DOI”, e que o senhor “era um oficial”. A carta anônima ainda informava que, no mesmo dia 20 de setembro, ”outra banca foi explodida, desta vez na Praça Seca”, e acrescentou que havia suspeita de que se tratava do mesmo grupo responsável “pela explosão da OAB/RJ” e pelo ataque ao “diretor da Sunab/RJ”.
O detetive ainda reclamou da omissão de seus superiores, cujos nomes são informados, em transmitir o episódio à Secretaria de Segurança Pública. Nenhum desses casos, nem mesmo o da banca de Campinho, foi investigado.
Ao encaminhar a carta ao secretário do presidente, Heitor Ferreira, Golbery anotou: “Heitor, para seus arquivos implacáveis”.
Foto do destaque: Célio Apolinário/Abril Comunicações S/A