O SNI e a “imprensa nanica”
Quando o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985) começou, os militares já haviam contido o surto terrorista de esquerda e desarticulado a Guerrilha do Araguaia. A máquina da repressão, porém, foi preservada.
Se na virada da década de 1960 para 70 um oficial que vigiava a militância clandestina podia evitar um assalto a banco ou um sequestro, ao fim da década de 1970 esse mesmo oficial passava o tempo lendo, em serviço, publicações esquerdistas distribuídas em bancas de jornal. Sem antagonista, a caça aos comunistas se transfigurou. A repressão precisava de uma justificativa para continuar a existir.
Quando o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985) começou, os militares já haviam contido o surto terrorista de esquerda e desarticulado a Guerrilha do Araguaia. A máquina da repressão, porém, foi preservada.
Se na virada da década de 1960 para 70 um oficial que vigiava a militância clandestina podia evitar um assalto a banco ou um sequestro, ao fim da década de 1970 esse mesmo oficial passava o tempo lendo, em serviço, publicações esquerdistas distribuídas em bancas de jornal. Sem antagonista, a caça aos comunistas se transfigurou. A repressão precisava de uma justificativa para continuar a existir.
A violência contra a chamada “imprensa nanica” — formada por publicações semanais e até mesmo mensais — incluía explosões de bombas em redações. Além disso, havia ameaças a jornaleiros e explodiam-se bancas que insistiam em vender as publicações condenadas.
Apreciação do Serviço Nacional de Informações de março de 1980, com análises dos principais temas da “subversão”, destacava a atuação da imprensa alternativa: “As Forças Armadas sofrem ataques constantes, a partir, em especial, de uma intensa orquestração da ‘imprensa nanica’, que livremente circula. Criminosos de ontem são as vítimas de hoje, a cobrar punição pelas ‘injustiças’ sofridas e ‘abusos’ cometidos”.
A Apreciação acrescentou que o diário Tribuna da Imprensa “procura, sistematicamente, através de artigos assinados, na seção de cartas e nas próprias manchetes, achincalhar as Forças Armadas”. No ano anterior, no Rio de Janeiro, uma bomba fora colocada no carro do jornalista Hélio Fernandes, diretor da Tribuna da Imprensa e irmão do cartunista Millôr Fernandes. A Tribuna estivera na vanguarda da oposição ao presidente João Goulart e tornara-se o jornal com mais tempo de censura.
O jornal Hora do Povo, entre outros, é apontado na Apreciação por procurar “desinformar a opinião pública (...) sempre justificando as atitudes comunistas. (...) Difamam as autoridades e o sistema vigente, propõem-se a denunciar ‘os crimes políticos da ditadura’ e a julgar os ‘torturadores’”. Na época, explodiram duas bombas na redação da Hora do Povo, em maio foram mais duas.
No ano anterior, o semanário Em Tempo havia listado 233 militares e civis acusados de terem torturado presos. A redação amanheceu, após poucos dias, totalmente depredada.