A reação dos militares à demissão de Ednardo
Em janeiro de 1976, temia-se nas casernas tanto a radicalização da ação anticomunista quanto o terrorismo de esquerda
Dois documentos confidenciais procuram retratar a repercussão entre os militares da exoneração do general Ednardo D’Avila Mello do comando do II Exército, em 19 de janeiro de 1976, em decorrência da morte do operário Manoel Fiel Filho no DOI de São Paulo. Um dos papéis traz uma avaliação do episódio e de suas possíveis consequências, feita pelo general Reynaldo Mello de Almeida, comandante do I Exército, no Rio de Janeiro. O outro reproduz a versão de Armando Falcão, então ministro da Justiça, de uma conversa com o general sobre o mesmo assunto.
Dois documentos confidenciais procuram retratar a repercussão entre os militares da exoneração do general Ednardo D’Avila Mello do comando do II Exército, em 19 de janeiro de 1976, em decorrência da morte do operário Manoel Fiel Filho no DOI de São Paulo. Um dos papéis traz uma avaliação do episódio e de suas possíveis consequências, feita pelo general Reynaldo Mello de Almeida, comandante do I Exército, no Rio de Janeiro. O outro reproduz a versão de Armando Falcão, então ministro da Justiça, de uma conversa com o general sobre o mesmo assunto.
O primeiro documento, intitulado Relatório Especial de Informações nº 01/76, foi assinado pelo general Reynaldo e entregue por ele mesmo ao ministro do Exército, Sylvio Frota. Em suas três páginas ele expõe, de forma cuidadosa, uma certa contrariedade com a súbita saída de Ednardo. Diz que a decisão teve “caráter punitivo” e “sensibilizou a classe militar”, passando a analisar suas possíveis consequências na área militar e na área política. Apontava o “surgimento, no consenso dos militares, da ideia de que o governo dá maior prioridade aos problemas relacionados com a distensão política do que os ligados à Segurança Nacional”, o que levaria à “radicalização da ação anticomunista fora do controle militar”. No plano político, a preocupação mais forte era com o apoio das esquerdas ao governo para “incentivar a distensão, procurando separar o governo do Sistema Revolucionário”. O documento termina sugerindo “resguardar” Ednardo e “demonstrar que a repressão às ações subversivas e contestatórias ao regime continuarão”.
Em outro documento está a narrativa de Falcão de uma conversa com Reynaldo. Em meio a rumores sobre um desmaio de Frota, o principal ponto do documento reside no item 7, que menciona a possibilidade de “preparação de sequestro ou atentado” por parte da “extrema esquerda” contra a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), procurando “atribuir a autoria à extrema direita”.
Os atentados ocorreriam, mas não viriam da esquerda. Reynaldo era um velho amigo de Geisel e conhecia a máquina repressiva. Ao assumir o comando do I Exército, fechara a “Casa da Morte” de Petrópolis (RJ), de onde apenas uma presa política, Inês Etienne Romeu, dirigente da VAR-Palmares, conseguiu sair com vida.