Quedograma, tentativa de reconstituição de prisões de militantes das organizações armadas (transcrição)
ADVERTÊNCIA – o texto que e segue é uma primeira tentativa de [ILEGÍVEL] sistemática de todos os processos e queda de militantes das Organizações Revol. brasileiras ALN (a partir do ano de 1968) e MOLIPO (a partir de 1971), principalmente no que se refere ao Estado de S. Paulo. Note-se que são apenas quedas (prisões e mortes), não interessando aqui outros tipos de informações porventura fornecidas. Dadas as naturais dificuldades que um trabalho desse porte implica, consideramos o resultado obtido como um esboço a ser desenvolvido e aprofundado. Sempre que possível, indicamos os responsáveis diretos pelas quedas de comps.
ADVERTÊNCIA – o texto que e segue é uma primeira tentativa de [ILEGÍVEL] sistemática de todos os processos e queda de militantes das Organizações Revol. brasileiras ALN (a partir do ano de 1968) e MOLIPO (a partir de 1971), principalmente no que se refere ao Estado de S. Paulo. Note-se que são apenas quedas (prisões e mortes), não interessando aqui outros tipos de informações porventura fornecidas. Dadas as naturais dificuldades que um trabalho desse porte implica, consideramos o resultado obtido como um esboço a ser desenvolvido e aprofundado. Sempre que possível, indicamos os responsáveis diretos pelas quedas de comps. Quando se trata de casos não esclarecidos – ou, então, desconhecidos por nós – optamos por anotar a hipótese mais provável à luz dos dados disponíveis, mas nunca sem grifar seu caráter de incerteza. Deixemos claro, portanto, de antemão, a possibilidade de existirem algumas incorreções nas sequências sistematizadas neste trabalho, ao mesmo tempo em que, exortamos todos os companheiros (q. tiverem acesso a este texto) a contribuírem para a complementação/retificação dos dados aqui expostos. Reputamos este trabalho, malgrado suas possíveis falhas, como fonte de informações de importância fundamental na avaliação de militantes que tenham, de alguma forma, passado pelos cárceres da ditadura militar fascista implantada no Brasil, em especial pelas torturas que caracterizam os chamados interrogatórios policiais. Sem essa avaliação careceriam de qualquer objetividade a atribuição de tarefas a ex-presos políticos, quer no território brasil, quer no exílio – voluntário ou não –
OU FICAR A PÁTRIA LIVRE, OU MORRER PELO BRASIL!
1- As primeiras quedas de que temos notícia, em termos de ALN, são de junho de 1968. Não há certeza quanto a origem das mesmas. Provável/e proveniente de alguma infiltração policial no ME de S. Paulo, que teria aberto um apartamento de [À MÃO: 1] Márcio Toledo Leite. Nesse apartamento, foram presos: Márcio, [À MÃO: 2] Agostinho Fiordelízio e [À MÃO: 3] Jum Nakabaiashi; [À MÃO: 4] Juan Cabezas (?) não sabemos exatamente como foi preso e [À MÃO: 5] Renato Martinelli foi preso em plena via pública – (av. Paulista – S. Paulo). Nessa época, [À MÃO: 6] Casemiro foi preso pelo DEIC em circunstâncias que desconhecemos. Durante o interrogatório, abriu um suposto contato na Cidade Univers. Levado p/ lá, foi resgatado por estudantes que moravam na CU, ocasião em que detiveram 2 policiais e uma viatura, queimada posteriormente.
2- Ainda em 1963, [À MÃO: 7] Alessandro Malavasi (que era sócio do proprietário do restaurante Don Giovanni, em S. Paulo, foi detido pelo DEOPS, juntamente com [À MÃO: 8] Antônio Carlos Madeira, médico, Marco Antônio Moro, advogado, e um terceiro comp. que desconhecemos. Malavasi era elemento de confiança da ALN, com destacada atuação na Baixada Santista, e conhecedor de toda a estrutura Orgânica. A partir de sua queda, estranhos fatos se sucederam, dando margem a que levantemos fortes suspeitas de que o mesmo se tenha tornado colaborador da polícia. O DEOPS jamais reconheceu sua prisão, nem tampouco conhecemos as condições em q. foi solto. Desconhecemos totalmente seu atual paradeiro, embora seja certo que, por volta de 1970, tenha sido visto na Itália. No início de 69, ocorreu a prisão de Rolando Prati, elemento dirigente da O. na ocasião, num ponto em que deveria encontrar-se com Carlos Marighella, sendo que este não caiu por sorte, devido a um ligeiro atraso. Suspeitamos, ainda, de que Malavasi seja responsável pela prisão de Argonauta Pacheco, então outro dirigente da O. Não afirmamos categoricamente tal coisa devido à possibilidade de que Antonio Carlos Madeira possa ter contribuído p/ a prisão de Argonauta, opinião, aliás, defendida por este último. Em fins de 68, morreram os comps. João Antônio Abi-Eçab e sua esposa Catarina, em um acidente automobilístico ocorrido em Vassouras (RJ), quando regressavam a S. Paulo, alguns dias após a ação de expropriação do IPEG, realizada na GB.
3- Um novo ciclo de quedas se inicia com a descoberta de um sítio em Itapecerica da Serra, de propriedade de Celso Araújo, sítio este emprestado à VPR. Através de Dulce Souza Laig, militante da VPR, caiu o apartamento de João Leonardo da Silva Rocira “Saul”. Aí, além de Leonardo, foi presa sua comp. [ILEGÍVEL], e foi assassinado Marco Antonio Brás de Carvalho – “Pedrinho” pelo delegado Raul “Careca”, do DEOPS. Dr. Madeira, que já havia sido solto, foi novamente detido, possivelmente em decorrência da prisão de Isaías Almada, militante da VPR. Isaías havia sido preso em fim de 68 e torturado pelo delegado Fleury, então no DEIC. Quando solto, alguns dias depois, Isaías foi medicado no Convento dos Dominicanos pelo Dr. Madeira. Na sua segunda prisão, Isaías teria fornecido essa informação, ocorrendo a prisão de Madeira. Ainda em decorrência das quedas dos militantes da VPR, no sítio de Itapecerica, houve a prisão de João Adelfo de Granville Ponce, em sua residência, cujo endereço fora indicado pelo traidor Borges Baptista, militante da VPR até essa época.
4- Em janeiro/fevereiro de 69, ocorreram quedas em Brasília. A origem teria sido um ex-militante do PCB, Wanderli Pinheiro dos Santos, q. passou a colaborar com a repressão e q. teria aberto e provocado a prisão dos seguintes comps. da ALN-: Farid Nebu, Ramon, Miguel Pressburger Werneck, Raimundo e Nonato (há dúvidas quanto à exatidão dos nomes dos 2 últimos). Além desses companheiros, derrubou os seguintes militantes do MR-8 (DI-RJ) na GB:- Luís Carlos de Souza Santos, Geraldo Galiza, Ciléia Resnick e Tiago.
5- Em fevereiro/março de 69, um informante da polícia, professor de uma faculdade da cidade de Marília (SP), denunciou Norberto Nehring e Waldomiro Pecht como militantes da O., e mais um elemento, idoso, cujo nome ignoramos. Após sua soltura, Norberto foi para o exterior. Em abril de 1970, quando regressava ao Brasil, foi preso ao desembarcar no aeroporto do Galeão, na GB, vindo em voo direto de Paris; é de ressaltar-se que Norberto possuía documentação falsa de boa qualidade. Levado p/ S. Paulo, foi assassinado no DEOPS, 5º andar, sob torturas, por Fleury e s/ equipe. Simulou-se um suicídio (inclusive forjando-se uma carta sua, de despedida, endereçada a sua mãe) e para isso foi utilizado o caso de um estrangeiro que se suicidara, naquele mesmo dia, num hotel suspeito situado nas imediações do DEOPS – que foi chamado pelo proprietário do hotel p/ atender à ocorrência.
6- Madeira, após ser solto pela 2a vez, foi novamente preso, por volta de março de 1969, como consequência de um seu cartão pessoal ter sido encontrado com Onofre Pinto, militante da VPR, quando de sua prisão.
7- Em maio de 69, foi preso, nas proximidades da Estação Rodoviária de S. Paulo, Guilherme Carvalho dos Santos, de Ribeirão Preto (SP), portando uma mala que continha clorato de potássio. Guilherme indicou Paulo Eduardo Pereira e Ari Normanha. Paulo Eduardo, por sua vez, indicou Wanderley Caixe e Nancy Marieto, que foram presos. Há suspeitas de que Irineu de Moraes “Índio”, tenha caído através de Paulo Eduardo. Anote-se aqui que Guilherme Carvalho dos Santos, no momento em que era solto, comprometeu-se com Dulce Souza Maia, militante da VPR, já citada, em levar um balanço de quedas na Livraria Duas Cidades e possivelmente entregá-lo a Frei Fernando.
8- Em fins de julho de 69, Ricardo Zaratini Filho foi preso em S. Paulo. Segundo se conseguiu apurar, Zaratini teria sido denunciado pela mulher de um seu apoio pessoal e preso ao entrar na casa comercial desse apoio.
9- Em 3/09/69, em entrevero c/ a polícia, foi assassinado o comp. José Wilson Lessa Sabas e presos os comps. Antenor Meier e Roberto Cômodo. Através de informações de Cômodo, confirmadas por Antenor, foi presa a Sra. Lúcia Novaes, que levou a prisão de seu filho Paulo Novaes.
10- Na madrugada do dia 4/9/69, na rua da Consolação, em S. P., morreram os comps. Ishiro Magami (“Charles”) e Sérgio Correia (“Gilberto”), vitimados pela explosão acidental de uma bomba de dinamite que carregavam no carro.
11- No dia 24/9/69, em tiroteio na Al. Campinas, em S.P., foi assassinado Luis Bogava Balboni e presos Takao Amano e Carlos Lichtsztejn. Às 5 horas do dia 2,5 foi preso João Z. Amano, em endereço aberto por Takao, seu irmão. No dia 28, foi preso Francisco Gomes da Silva, quando chegava em seu aparelho, onde residia com Denison Luís de Oliveira, que se encontrava em Bofete, no interior do Est. S. Paulo. Denison, por sua vez, foi preso em Bofete, ao que parece em decorrência de informações obtidas a partir da queda de alguns seus documentos legais que se encontravam na casa de Takao e João Amano. A região do aparelho em que Francisco e Denison residiam, em SP, pode ter sido indicada por Takao. Na madrugada do [ILEGÍVEL], caiu a casa da família Fon, onde foram presos Virgílio Gomes da [ILEGÍVEL] (“Jonas” – assassinado na OBAN), Maria Aparecida [ILEGÍVEL] e Antonio [ILEGÍVEL] Fon. Há controvérsias quanto à origem da queda dessa residência: a responsabilidade recai sobre Francisco Gomes da Silva ou Takao Amano. O primeiro não assume qualquer vinculação com a queda da residência, mas é certo que conhecia o antigo endereço da família Fon, de onde se poderia ter localizado, através de informações de vizinhos, o novo endereço. Além disso, Francisco encontrava-se com a repressão no momento em que [ILEGÍVEL] invadiu o apto. O segundo, Takao, conhecia legalmente Aton Fon Filho, irmão de Antônio Carlos, mas isso não basta para podermos imputar-lhe responsabilidade pela queda, motivo pelo qual seria de bom alvitre verificar sua versão dos fatos. Denison, por sua vez, abriu a residência do casal Breyton, onde foram presos Jacques Frédéric Breyton e Nair Benedito. Francisco abriu um ponto com Celso Antunes Horta, que foi preso. Celso abriu o endereço de José Luís Novaes; este, preso pela OBAN, abriu um ponto c/ Márcio Beck Machado, que foi resgatado por outro comp. no momento em que ia sendo preso. Francisco abriu, ainda, o endereço de uma casa localizada em S. Sebastião, no litoral paulista, onde foram presos na madrugada do dia 30 Hilda Gomes da Silva e filhos e Manoel Cyrillo de Oliveira Netto; no dia 1 de outubro, Paulo de Tarso Venceslau. Em função da queda dessa casa de S. Sebastião, sua proprietária, Sandra Negraes Brizola e s/ pais foram presos (ficaram todos detidos 2 dias na OBAN). Cyrillo abriu o endereço de Dr. José Paulo Reis, dentista, onde se encontrava Carlos Eduardo Pires Fleury, que também foi preso. Reis, por sua vez, abriu Abel Bela, que foi detido no Banco onde trabalhava. Manoel forneceu o endereço de uma pensão onde residira anteriormente, cuja proprietária fora informou a repressão de que quem havia lhe indicado o hóspede Manoel fora Gontran, preso horas depois.
12- Uma nova fase de prisões se iniciou c/ a abertura do Convento dos Dominicanos, em SP, provocada pela queda de um documento de identidade no aparelho de Paulo de Tarso Venceslau, onde constava o telefone do Convento, seguido do nome de Osvaldo. Tal coisa passou despercebida à OBAN. No DEOPS, entretanto, a equipe do delegado Fleury interessou-se pelo assunto juntando esse dado a outras informações anteriores sobre o Convento: sejam as fornecidas por Isaías Almada (ver item 3), sejam as fornecidas por Guilherme Carvalho dos Santos, preso recentemente em função das quedas das FALN de Rib. Preto (SP), que abrira o conteúdo do recado de Dulce Souza Maia para Frei Fernando (ver item 7). Para corroborar esses dados, havia ainda a informação fornecida por Paulo de Tarso Venceslau sobre ligações orgânicas de Frei Osvaldo Resende e de Frei Beto (Carlos Alberto Libânio Cristo). Como consequência, o convento passa a ser vigiado diuturnamente. No dia 31 de outubro, Sinval Itacarambi Leão fez uma chamada telefônica p/ o convento (ou vice-versa), conversando com Frei Ivo (Ives do Amaral Resbaupin), a fim de marcar um ponto na GB, para o dia 2 de novembro, entre os dois. Como os telefones do convento também estivessem sendo vigiados, a conversa foi interceptada. Frei Ivo, ao se dirigir à GB em companhia de Frei Fernando de Brito, foi seguido pelo DEOPS. Na GB, momentos antes do contato, o ônibus com o qual ambos os freis se dirigiam p/ o local do ponto sofreu um acidente; os policiais, precipitando-se, prenderam-nos ali mesmo, levando-os em seguida à sede do CENIMAR. Os policiais não sabiam exatamente a identidade dos 2, confundindo Frei Ivo incialmente com Aton Fon Filho (que usava, na 0, o nome de “Ivo”) e depois com Frei Osvaldo Resende. Nesse mesmo dia, Frei Ivo cita Frei Fernando como sendo militante da ALN – até então, embora preso, não sendo torturado. A partir desse instante, não dá para se definir responsabilidades individuais de Ivo ou Fernando. É certo, porém, que foram presas as seguintes pessoas que ambos conheciam: Carlos Marighella – após abrir que tinham ligação c/ Marighella, abriram a forma de contatá-lo – através da Livraria Duas Cidades, em S.P., com a inciativa partindo de Marighella, por meio de uma ligação telefônica em código. No dia 4 de novembro, já em S.P., Frei Fernando foi levado à livraria p/ aguardar uma possível chamada telefônica de M. Marighella fez a ligação e recebeu a confirmação do ponto, de Frei Fernando, cujo local e hora já estavam previamente combinados. Minutos antes do ponto, Frei Ivo e Frei Fernando foram levados ao local e Marighella foi assassinado ao entrar no carro onde os 2 freis se encontravam. Freis: Tito de Alencar Lima, Roberto Romano, Maurício (João Caldas Valença), Geórgio Callegari. E mais: Nestor Motta – professor de ioga, Roberto de Barros Pereira – engenheiro, os jornalistas Luís Roberto [ILEGÍVEL] e Carlos [ILEGÍVEL] e suas respectivas comp. Rose Marie e [ILEGÍVEL] Vasconcelos. Sinval Itacaraubi Leão, comparecendo ao ponto, já citado, c/ Freis Fernando e Ivo e [ILEGÍVEL], voltou ao seu apto., onde foi preso. Frei Tito indicou [ILEGÍVEL] de Oliveira (“Rabotche”). Na casa de Genésio foi [ILEGÍVEL] – naval de nome Cavalcanti. Frei Maurício indicou as seguintes pessoas: Sebastiana Gorrer Bittencourt Guimarães – jornalista, Antônio Ribeiro [ILEGÍVEL], ex-Frei Francisco Augusto Catão e Manoel Carlos Guimaraes [ILEGÍVEL] – de Marighella se encontrava o endereço de Carlos [ILEGÍVEL] – [ILEGÍVEL] Fernandes, que foi preso em Curitiba, PR. No Convento [ILEGÍVEL] – [ILEGÍVEL], foi detido “Decuinha” irmão de Genésio homem de Oliveira [ILEGÍVEL] – fora avistar-se c/ Frei Tito. Posteriormente, foi preso no Rio [ILEGÍVEL] do Sul, Frei Beto, anunciado pelo dono da fazenda onde se [ILEGÍVEL] abandonar o Convento Cristo-Rei, em S. Leopoldo (RS), [ILEGÍVEL] Ivo e Fernando. Ainda no sul, foi preso o Padre Manoel [ILEGÍVEL] intermediário entre Frei Beto e o proprietário da fazenda onde o mesmo se escondera. Quanto às quedas de Francisco Falcão Cosme, seminarista, e de um outro seminarista cujo nome desconhecemos, e de Monsenhor Barbelo Pinto Cavalheiro, não sabemos exatamente a quem cabe a responsabilidade pelas mesmas.
13- Em fins de agosto e começo de setembro de 69, em Brasília, iniciou-se um novo ciclo de prisões, cujos desdobramentos alcançaram prisões ocorridas até meados de novembro. Tudo começou c/ a prisão de um secundarista conhecido como “Gastão Guerrilheiro”, denunciado por seus próprios pais. Gastão, com certeza, abriu um soldado do Exército de nome Guilherme José Carlos Vidal e Celso Araújo. Foram presos, também, mas não sabemos em que circunstâncias: Márcio dos Santos (“Zito”), Jaime Hélio Dick, Jorge Bittar, Régis Barbosa, Roberto Vitoriano Gomes, Cláudio Lima Calmon, Ney Pires de Azevedo, Nilza Pires de Azevedo, Andir Silva de Almeida Nunes e outros. Régis havia sido enviado de S. Paulo a Brasília p/ constatar como estava a situação orgânica nessa cidade, sendo preso ao chegar a um aparelho “queimado”. Régis abriu um ponto em S.P. c/ Jeová Assis Gomes, que foi preso em meados de novembro. Jeová abriu o apto. onde se encontra a hospedado, ali sendo presos dois estudantes, um de nome Armando, da Escola de Comunicações USP, e outro cujo nome desconhecemos. Estes estudantes indicaram Toshio Kavamura. Jeová também abriu Genésio Inácio de Souza, que foi preso, e o fato de ter sido realizada uma reunião na casa de Gontran (ver item 11) fez com que ele fosse novamente preso. P.T. Venceslau, interrogado sobre essa reunião, confirmou-a, inclusive reafirmando a região da cidade onde se localizava a casa de Gontran.
14- Em fins de outubro/69, foram presos em Rivera, no Uruguai, Joseph Bartolo Calvert e Sebastião Mendes Filho em decorrência de uma investigação da polícia uruguaia sobre um padre de Rivera que os hospedava. Sebastião conseguiu fugir do quartel onde os 2 se encontravam presos, sendo recapturado alguns dias depois, ainda no Uruguai. Calvert indicou um apto. localizado na GB, que levou à queda de Jorge que mantinha ligação com a ALN. Abriu, ainda, uma igreja de Porto Alegre (RS) onde se hospedara, daí ocorrendo a prisão de 2 padres estrangeiros cujos nomes ignoramos.
15- Em fins de outubro/69, em consequência da detenção de Sílvio Rego Rangel, militante das FALN de Rib. Preto (SP), foi localizado o endereço de Isami Nakamura, onde foram presos, além de Isami, Luís Carlos Cintra e uma estudante de Medicina Veterinária da USP. Esta estudante abriu uma pensão onde foi preso Oscar Terada. Abriu, ainda, um ponto com Vilma Barbosa Cintra e Arlete Benzadolli, que foram presas. Oscar Terada abriu o apto. de Neide Barriguelli e Zilda Junqueira, que foram presas. Neide, em 23/10/69 apontou o endereço de José Mauro Boschero, onde foram presos, além de José Mauro: Walter Tamagushi (“Saponês”), Antônio Carlos Boschero e Carlos Alberto Lobão da Silveira Cunha.
16- Em setembro/69, Alessandro Malavasi (ver item 2) esteve detido mais uma vez, em circunstâncias misteriosas, no DEOPS. Apesar de ter estado por um período de tempo razoável, ninguém o viu. Só um pequeno lapso da repressão permitiu que um dos comps. presos no DEOPS àquela época visse seu nome no livro de registro de presos. De qualquer forma, em 4/11/69 foram presos o médico David Hunovieh e o advogado Renato Guedes Siqueira, em circunstâncias não esclarecidas. Daí aventar-se a hipótese de ter sido Malavasi o responsável, direto ou indireto, por essas quedas.
17- Em decorrência da prisão de militantes das FALN, Rib. Preto, em outubro/69, foram presos: o camponês Maginho Agostino [ILEGÍVEL], que abriu Paulo Eduardo Pereira (ver item 7), que indicou Guilherme Carvalho dos Santos (ver itens 7 e 12). Os 2 últimos são responsáveis pelas quedas de: Ari Normanha e Irineu de Morais (“Índio”), presos agora pela segunda vez (ver item 7), Paulo dos Santos, José Antônio da Silva, Claudinei Macareto, José Eduardo Roselino, Celso Manso, Dr. Marcos Barbiere (“Tótó”), Pedro Sabino e esposa, Dr. Roshio, Darrier, Dr. Ivan Lucena [ILEGÍVEL] e outros. Ivan Lucena abriu o Dr. Carlos Normanha, irmão de Ari, e um outro médico; além disso, indicou o arquiteto Sérgio Zaratin e sua esposa.
18- Em dezembro/69, Maria Aparecida Costa foi presa na GB, casualmente, ao cruzar na rua com o delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., da [ILEGÍVEL] seu antigo colega de Faculdade. Maria Aparecida abria o dentista Celso [ILEGÍVEL], a jornalista Edith Negraes, tia de Sandra Brizola (ver item 11), e o traidor Hans Rudolf Manz. Este levou a repressão a um aparelho localizado na GB, utilizado p/ receber comps. vindos do exterior. Nesse local foram presos: Domingos Fernandes e sua comp. Tânia; Linda Tayah e Aton Fon Filho. Hans abriu, ainda, o jornalista Costa Pinto, Clóvis de Castro, Joaquim Gomes da Silva e outros. Costa Pinto tinha um ponto com Otávio Ângelo (“Tião”) e, na cela, comentou tal fato com Hans. Este avisou a polícia e Costa Pinto terminou abrindo o ponto, coberto pessoalmente por Hans onde “Tião” foi preso. Costa Pinto, depois de preso, apresentou visíveis sinais de loucura. Foi causador da prisão de várias pessoas, cujos nomes ignoramos. Por sua vez, Fon abriu o juiz federal Américo Lacombe e Ozenilda Alice Garcia. Foi preso, nessa ocasião, Ayrton Caldevilla, que afirmava ter sido aberto por Fon; há, entretanto, a versão de que Ayrton foi preso em consequência de a repressão ter decifrado os endereços codificados constantes de uma caderneta pertencente a Marco Antônio Braz e Carvalho (“Pedrinho”) – (ver item 3), o que teria causado também a prisão de outras pessoas. Ayrton, por seu lado, abriu Diva Faria Burnier, Clóvis de Castro abriu João Sampaio e há suspeitas de que teria aberto um comp. de nome “Lumumba”. Nessa época, foram presos vários integrantes do grupo “Zumbi”, entre os quais o comp. Xavier, genro de João Sampaio. Costa Pinto abriu entre outros, Osvaldo Lourenço, o armeiro José Alves da Rocha (“Rochinha”) e Otávio Ângelo, já referido. Este abriu Francisco Bispo de Carvalho, Dorgival Damasceno, Washington Alves da Silva e família, Francisco Nelson Modesto e seu irmão, Antônio Delaverde Mendonça, Lígia Aparecida Cardieri Mendonça (sobrinha do “Toledo”), um despachante de nome Lauro Montenegro Nogueira, que executava trabalhos p/ a O., Márcio Tozzi, professor na cidade de Marília (SP) – (não confundir com um informante daquela cidade, prof. universitário citado no item 5, “aberto” por “Tião” como agente duplo) e Geraldo Santana, ex-suboficial da FAB, que apresentava visíveis sintomas de distúrbios mentais, agravados posteriormente na cadeia. Foi preso, também, em Marília, Sérgio Barbuil. Por esse tempo, achava-se detido José Nonato Mendes (“Pelo de rato”), preso através de quedas da VPR em junho/69. Nonato era um dos 9 militantes (entre os quais “Tião”, “Jonas”, Fon e Hans) que participaram da primeira turma que recebeu, pela O., treinamento em Cuba. Esta informação foi dada à polícia pelo traidor Hans, o que provocou a volta de Nonato a OBAN, para ser reinterrogado. Otávio Ângelo e Nonato, em conjunto, abriram Dr. Benedito Artur Sampaio, como elemento de ligação com comps. vindos de Cuba.
19- Em fins de 69, um ex-militante da DI de S.P., agora agente policial infiltrado no Mov. Operário de Sto. Amaro, bairro de S. Paulo, trabalhando como operário da “Ultragás” e conhecido como “Alemão”, levou à prisão de José Alprim Filho (“Mister X”) e Miguel Nakamura. Alprim abriu o aparelho onde residia com Fernando Gabeira, militante do MR-8 (DI-GB), que se encontrava em S. Paulo, provocando sua queda.
20- Em fins de janeiro/70, em S.P., foi preso um grupo de estudantes em decorrência de uma ação de panfletagem realizada no dia 25. Entre eles, Caio Sérgio Monteiro Turma, José Carlos Cardoso, Rodolfo Cavalcante e Márcio Percival Pinto. Caio e Márcio abriram um ponto com Maria Luíza Locatelli Beloque e Leslie Denise Beloque, que foram presas.
21- No início de 70, foi preso Viriato Xavier de Mello – (“Ricardo”), cuja prisão é de origem por nós ainda desconhecida. Consta, entretanto que Renato Guedes Siqueira (ver item 16), por ocasião de sua queda, havia fornecido importantes informações sobre Viriato à repressão, inclusive uma antiga pensão onde este residira. Aí foi encontrada uma cédula de identidade falsa, com a foto de Viriato. E o fato é que Viriato foi preso logo em seguida, em Curitiba (PR), em circunstâncias desconhecidas. Aventa-se a hipótese de a foto ter sido reconhecida por um seu cunhado, policial do DEIC/S.Paulo. Através de Viriato, por sua vez, foram presos: Vitório Chinaglia, Jétero de Faria Cardoso e esposa, Tarcísio Sigristi, Erídano Pereira da Silva, Valdemar Tebaldi e seu filho, Flávia da Silveira Lobo, Humberto [ILEGÍVEL] Miranda e Marco Antônio Moro, este pela segunda vez (ver item 2). Flávia abriu Antônio Brito Lopes, militante do PCB em Santos (SP), Aimar [ILEGÍVEL], um casal de Santos (SP) cujos nomes desconhecemos e a diretora de um colégio de Mongaguá (SP). Ressalte-se que Viriato assumia apenas parcialmente a responsabilidade por essa série de prisões. Nesse mesmo período, foi preso em S.P., em fins de fevereiro/70, Manoel Clarindo Pereira, quando retornava de uma viagem, possivelmente denunciado por seus familiares. A prisão de “Mané das Máquinas”, como era conhecido, levou à prisão de [ILEGÍVEL] Pita, em Rib. Preto (SP).
22 – Em março de 70, Nelson [ILEGÍVEL] – (“Paulo”) foi preso na GB e abriu um ponto em S.P. onde foram presos Gilberto Luciano Beloque – (“Alencar”) e Maurice Politi. Através de Gilberto Beloque caíram: João [ILEGÍVEL], [ILEGÍVEL] Rodrigues dos Santos, Patrocínio Henrique dos Santos, José Cláudio Barriguelli e Virgílio Pedro da Silva. Gilberto abriu, ainda, um apto. da jornalista Vera Lúcia Xavier de Andrade, onde foram presos, além de Vera, Bernardo Casadei Sales e Albertine Padrasseli. Além disso, abriu um antigo aparelho de Carlos Russo Jr. (“Hélio”), o que propiciou a localização de seu novo aparelho, onde foram detidos Carlos Russo Jr. E Vera [ILEGÍVEL] Russo. Carlos Russo abriu Luís Paulino e Luís Carlos Rocha Gaspar. Paulino, por sua vez, abria Diomar Alves (“Pepira”). João Batista Spanier abriu Francisco Ferreir e Dorival Ferreir (“Morais”), assassinado pela OBAN, em 2/4/70; abriu, ainda, o endereço de “Beduíno”, onde foram presos alguns de seus familiares, inclusive sua irmã, que é enfermeira. Na casa de José Cláudio Barriguelli foram presos Carlos Eduardo (“Caco”) e Clarice Galvão de Figueiredo. “Caco”, por sua vez, abriu Abrahão Brajman, do POC, que foi preso. Vergílio Pedro da Silva abriu Inácio dos Santos. No apto. de Vera Xavier foi presa, também, Eliane, que tornará a ser detida em janeiro de 72 (ver item 44). Maurice Politi trazia em seus bolsos uma licença especial p/ dirigir determinado veículo, do qual constavam, obviamente, as características do veículo (nº da chapa, marca, cor, ano, etc.). Casualmente, uma equipe de busca da OBAN localizou, na rua, esse carro, dirigido na ocasião por Guiomar Silva Lopes (“Maria”), que estava acompanhada de Sônia Hipólito. “Maria” abriu Norma Freire, Betty Chachamovitz e José Idésio Brianesi (“Mariano”), que foi assassinado pela OBAN. Através de informações fornecidas por Guiomar e João Spanier, foi preso Rafael Martinelli. Este, por sua vez, parece ter aberto André Bueno Acosta. Houve ainda, em maio/70, a prisão de Hélio (desconhecemos seu sobrenome) em seu local de trabalho. Diz-se que sua queda ocorreu em função de investigações efetuadas pela repressão com base em informações cedidas por Marco Antônio Moro ou Rafael Martinelli.
23-Nessa mesma época foi preso o armeiro Alfredo de Oliveira Santos. Sua prisão foi motivada por denúncia de alguns especuladores que faziam câmbio negro com dólares, por julgarem que os dólares apresentados a negócio por Alfredo fossem provenientes do cofre de Adhemar de Barros – Ana Capriglione; expropriado por um comando da VPR em meados de 69. É bom grifar que Alfredo nunca foi militante da ALN, tendo-se limitado a prestar serviços de armeiro, devidamente remunerados, a alguns comps. da O. Na cadeia, algum tempo após sua prisão, Alfredo passou a colaborar com a repressão, prestando-lhe, até hoje, serviço de informante no presídio onde se encontra detido.
24- Virgílio Pedro da Silva, preso em março/70 – (ver item 22), identificou Rubens Teixeira, apontando-o como limitante da O. na Baixada Santista. Rubens entrou p/ a clandestinidade, deslocando-se p/ Curitiba (PR), onde foi preso aproximadamente 2 meses depois, provavelmente denunciado por seus familiares.
25- Em abril/70, foi preso em Porto Alegre (RS) Edmur Péricles (“Gauchão”), ex-militante da ALN, denunciado por um empregado de um hotel onde se hospedara. É de sua responsabilidade a prisão de um grupo de camponeses da região de Presidente Epitácio (SP), autor do justiçamento do latifundiário “Zé Dico”, em 67. [À MÃO: (Os camponeses estavam presos em Lins desde 68/69.)]
26- Por essa época, Djaine Alves da Silva, ex-integrante da base do PCB de Tatuapé, bairro de S. Paulo, entregou-se à polícia p/ cumprir a pena a que fora condenado em processo referente à tentativa de atentado a bomba contra a fábrica de pneus Good-year, em S.P., em 67. Na cadeia, renegou a revol., recebendo, como prêmio, sua liberdade.
27- Em maio/70, em S.P., foram assassinados os comps. Antônio dos Três Rios de Oliveira –(“Argeu”), militante da O., e Alcari Mario Gomes da Silva – (“Carmen”); militante da VPR e comp. de Osvaldo Soares (“Miguel [ILEGÍVEL]”). Isto se seu em decorrência das informações fornecidas a Osvaldo “[ILEGÍVEL]”, que permitiu a localização do aparelho em que ambos se encontravam. De início, a repressão não encontrou “Carmen” e “Argeu”, que se haviam [ILEGÍVEL] camuflado; “[ILEGÍVEL]”, entretanto, indicou o [ILEGÍVEL] assassinados.
28- O marginal Luís Carlos Campos (“Peruquinha”), havia conhecido alguns comps. durante sua estada na cadeia. Ao ser libertado, “Peruquinha” levou alguns recados de Geraldo Santana, que se encontrava preso e bastante perturbado mentalmente (ver item 18), p/ uma pessoa que possuía ligações c/ um simpatizante da ALN, fato de que tomou conhecimento. Numa posterior prisão sua, o marginal “Peruquinha” relatou todos esses fatos à polícia comum, que os transmitiu ao DEOPS. Este, interessando-se pela história, promoveu investigações que levaram à prisão de um operário de nome José, que era apoio de Nilson Furtado (“Alexandre”), consequentemente preso em um ponto c/ José, em maio/70. Nilson abriu e foram presos: Antônio Campoamor do Nascimento (irmão de José Alprim Filho – ver item 19), Pedro Domingos dos Reis, João Batista Costa, Jony da Silva Ribeiro, Boaventura José de Araújo, Abílio Oliveira Netto, Abinoel de Oliveira Lima e outros. Antônio Campoamor abriu Liquio Hirata e irmão, e a companheira de “Mr. X”.
29- No dia 11/7/70, em SP, foi ferido durante uma ação, acidentalmente, Ari de Rocha Miranda (“Miguel”) que, não resistindo aos ferimentos, veio a falecer. Nesta mesma ação, foi ferido o traidor Wilson Conceição Pinto (“Justo”), que se entregou à polícia e passou a colaborador c/ a mesma. Sendo de sua responsabilidade exclusiva a prisão de seu próprio cunhado de nome Aparecido, Rafael de Falco Netto, Gabriel Prado Mendes, Geraldo Magela de Campos Motta, Ana Maria Ramos, Idnaura Marques, Francisco de Souza Jorge e outros. Rafael abriu Leonel Itaussu e seu pai, Fuad. Aparecido, por sua vez abriu Djalma Andrade dos Santos.
30- No dia 13/7/70, foi presa acidentalmente nas lojas de Mappin, em SP, Ana Burztyn. Esta localizou o aparelho de Eduardo Leite (“Bacuri”), onde foi presa sua companheira Denise Crispim (“Célia”). Através de informações cedidas por Ana, a equipe do delegado Fleury (na época titular do 41º Distrito Policial, Vila Rica – SP) prendeu Basia Ita Wheitman, que por sua vez apontou Reinaldo Morano Filho (“Manoel”), preso em 15/8/70.
31- Em julho/agosto de 70, foi detido Wilton Montenegro, quando visitava seu cunhado Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel (ver item 12), preso no Recolhimentos de Presos Tiradentes, em SP. O pretexto para a prisão de Montenegro foi a apreensão de uma faca de cozinha que o mesmo levava p/ seu cunhado (instrumento de cozinha comum em todas as celas do presídio, [ILEGÍVEL] que os próprios presos cozinhavam).
32- Eduardo Leite (“Bacuri”) caiu no dia 21/8/70, na GB. Foi preso por tiras do delegado Fleury (deslocados de SP especialmente p/ isso) e do CENIMAR. Embora sua queda não esteja perfeitamente esclarecida, suspeita-se que tenha sido provocada por informações fornecidas por 2 agentes provocadores infiltrados nos meios revol. da GB. Seriam dois ex-militantes da antiga FLN (Frente de Libertação Nacional) infiltrados no MAR (Movimento Armado Revolucionário), com os quais “Bacuri” havia mantido alguns contatos. Um deles seria Paulo Artur (ou Artur Paulo) de Souza (“Miguel”), causador de quedas na VPR, MAR e PCBR/PE. Paulo Artur atualmente trabalha como torturador no DOPS de Porto Alegre (RS), onde mora na rua Dona Firmina. Não houve queda alguma por indicação de “Bacuri”, nem sequer do aparelho onde havia sido guardado o embaixador alemão sequestrado em junho de 70, em ação comandada por “Bacuri”. Eduardo Leite foi retirado clandestinamente do DEOPS de SP aos 50 minutos do dia 27/10/70 e as sassinado nas imediações de S. Sebastião, no litoral paulista, na madrugada do dia 8/12/70, tendo passado 43 dias em cárcere privado, sob indescritíveis torturas.
33- Em setembro de 70 foi preso em Belém (PA), o traidor José Tavares da Silva (ou José da Silva Tavares) (“Severino”). Era ele um dos coordenadores do trabalho de campo da ALN naquela região. Após a prisão, conhecida pela O, passou-se para o lado do inimigo e dispôs-se a colaborar com a repressão, que simulou uma fuga de “Severino” do hospital onde supostamente o mesmo estava internado a fim de tornar possível sua recontatação c/ a O. Assim, a “fuga” foi amplamente divulgada pela imprensa, particularmente a da GB. Nesse Estado, “Severino” conseguiu seus primeiros contatos estribados na farsa montada pela repressão, e veio, a seguir, p/ S.P., onde conseguiu ponto com Joaquim Câmara Ferreira (Comandante “Toledo”) e outros militantes. Coroando sua traição, “Severino”, no dia 23/10/70, derrubou “Toledo”, Viriato Xavier de Mello Filho, Maria de Lurdes Melo Rego (“Baixinha”) e Maurício Segall. “Toledo” foi morto, sob tortura, horas após sua prisão, num sítio localizado nas imediações de SP, utilizado pelo “Esquadrão da Morte” do delegado Fleury. “Severino”, atualmente, tem vida legal em Belo Horizonte – MG onde foi visto por várias pessoas que o conheciam. Com Maria “Baixinha”, caiu uma nota de aluguel ou conta de luz elétrica/água da casa em que a [ILEGÍVEL] de “Toledo”, residia. Nesse local, tornou-se possível a prisão da [ILEGÍVEL] Maria Sampaio Tavares, locatária do imóvel, que, por sua vez, abriu um outro arquiteto, possivelmente Sérgio Sousa Lima e sua esposa. A partir daí, em cadeia, terminaram por ser presos os arquitetos Rodrigo Lefrev, Sérgio Ferro, Carlos Henrique Heck e Júlio Barone, e uma jornalista de nome Neuza. Os arquitetos, ainda, no seu conjunto, levaram à prisão alguns simpatizantes e apoios (Augusto Boal, Cláudio Vouga e Cláudio Tozzi) [ILEGÍVEL] tomado a decisão coletiva de nada omitir à repressão.
34- Em setembro /70, uma vestibulanda do curso Equipe, em SP, de nome Filomena, esqueceu uma bolsa contendo documentos da O. num táxi. O motorista do táxi entregou a bolsa ao DEOPS que, por meio do endereço contido na bolsa, prendeu Filomena. Embora esta prisão fosse amplamente conhecida pelos estudantes do Curso Equipe, o DEOPS prendeu sucessivamente todos aqueles cujos endereços se encontravam na bolsa de Filomena, a maioria composta de vestibulandos do cursinho. Assim, foram presos: Cézar Augusto Stefan Castiglioni, Luís Alberto Ravaglio, Roberto Mai Netto, João José Faria Cardoso (filho de Jétero de Faria Cardoso, ver item 21) e outros, os quais conhecemos apenas como “Castor” (estudante de química – USP), [ILEGÍVEL] (estudante de Geologia – USP), um vestibulando que no ano seguinte ingressou na FAU-SP, Fábio (na época prestando serviço militar no [ILEGÍVEL]-SP), além de uma garota de nome desconhecido por nós. Roberto Mai indicou a esposa de Jétero Faria Cardoso e Luís Alberto Ravaglio abriu uma garota de nome Sílvia e seu marido (este, parente de “Toledo”). Vale notar que Cezar Castiglioni, até alguns dias antes de sua prisão, havia residido com “Toledo”.
35- Em dezembro/70, José de Lima, morador em Guarulhos (SP), apresentou-se à polícia em virtude de sua companheira ter sido presa e estar sofrendo pressões para entregá-lo. Lima abriu dois outros moradores de Guarulhos (SP), José Fernandez e o sapateiro José de Oliveira Campos, que foram detidos.
36- Nos primeiros dias de janeiro de 71, em SP, foi preso, pelo DEOPS, Aguinaldo Meier, Segundo a repressão, Aguinaldo foi preso porque a chapa de seu carro coincidia com a chapa de um veículo que havia sido utilizado numa ação realizada em agosto ou setembro de 70, em Brasília-DF. Foi solto poucos dias depois sem que as coisas tivessem sido esclarecidas.
37- Em fevereiro de 71, foram presos Alcides Mamizuka, Robene Batista da Costa e José Reinaldo Paes Leme, no aparelho onde os 3 residiam, por ra zões ainda ignoradas por nós. Supõe-se que tenha sido a partir de denúncia de vizinhos. No aparelho foi preso um amigo de Alcides de nome Pedro. Alcides abriu: Márcia Yajgunovitch Malra, Rioko Kaiano, Márcia Coelho, Luís Antônio Vasconcelos (Vasco) e Josias Costa Barros, estes 2 últimos estudantes de Campinas (SP), Percival Penon Maricato e Paulo de Tarso Vannuchi. Através de Percival, caíram Homero, Lênin e um estudante nissei. Percival abriu que Consuelo de Castro tinha contato com Abelardo Folgueiras Blanco. Consuelo foi presa pela OBAN. Vannuchi indicou Edvaldo Goradetti, um seu apoio pessoal.
38- Em junho/71, em SP, foi preso Érico Vanucci, em circunstâncias desconhecidas, que admitiu ser elemento de apoio de Luís de Almeida Araújo (“Ludovico”), quadro de direção da ALN. Érico foi solto alguns dias depois com o compromisso de denunciar “Ludovico” ou qualquer militante revolucionário que o procurasse. O fato é que, poucos dias depois, Luís Araújo foi preso num ponto que, segundo consta, teria com um seu apoio pessoal. Há fortes suspeitas de que esse apoio fosse Érico, ainda mais se levando em conta o comportamento esquivo e estranho que esse manteve durante todo o tempo em que esteve preso. Luís Araújo foi assassinado na OBAN.
39- No segundo semestre de 71, em S.P., adotara-se com certa frequência a prática de ações armadas sem planejamento prévio, isto é, realizadas de surpresa, sempre que se apresentasse uma oportunidade (tal como RPs avariadas, viaturas do exército estacionadas em vias públicas sem cobertura, etc.). Com isso, a repressão acabou por planejar e montar emboscadas aos revol., deixando viaturas policias estacionadas em diferentes pontos da cidade, aparentemente sem qualquer cobertura, com a função precípua de servir de chamariz aos revol., ao mesmo tempo em que mantinha equipes de policiais fortemente armados entrincheirados em locais estratégicos das proximidades, em regime de tempo integral. No dia 23/9/71, uma dessas viaturas/chamariz, estacionada na rua João Moura, próxima do nº 2358, no bairro do Sumarezinho, foi abordada por um comando guerrilheiro. No tiroteio que se travou, foram assassinados os comps. Antônio Sérgio de Matos (“Uns e Outros”), Manoel José Nunes Mendes de Abreu (“Joãozinho”) e Eduardo Antônio Fonseca (“Roshe”), tendo a comp. Ana Maria Racinevik, sob intensa fuzilaria, logrado bater em retirada.
40- No dia 4/11/71, caiu Aylton Adalberto Norteti (“Tenente”), militante do MOLIPO. Como, nessa mesma época, caiu Flavio de Carvalho Molina, outro militante do MOLIPO, existem algumas hipóteses que procuram explicar as 2 quedas, nenhuma das quais de absoluta credibilidade. Assim, temos:
a) “Tenente” teria caído em uma batida policial efetuada na Radial Leste, em SP, por estar dirigindo um carro expropriado; teria reagido à prisão, sendo ferido e preso. Há inclusive informes de que outros revol. teriam casualmente presenciado o tiroteio. Neste Caso, Molina poderia ter caído em consequência de ponto fornecido à repressão por “Tenente”. É certo, por outro lado, que “Tenente” deu informações à repressão, pois aparecem dados nos arquivos da OBAN que só podem ter sido fornecidos por ele, já que só ele conhecia-os.
b) as quedas seriam independentes uma da outra, com causas próprias, embora, situadas na mesma época; existem informes de que, no dia da queda de “Tenente”, alguém teria visto 2 presos sendo violentamente torturados na OBAN; embora mantidos encapuçados durante todo o tempo, teria sido possível perceber que um deles era alto e loiro, características físicas que coincidem c/ a descrição que se tem de Molina. Por sinal, é bom lembrar que Molina estava viajando e pode ter caído durante a viagem. De qualquer forma, é certo que “Tenente” saíra de casa com a conta de água ou de luz no bolso, a fim de efetuar seu pagamento. Caindo esta, o endereço nela contido seria a pista direta para a localização do aparelho onde residiam, ainda, José Roberto Arantes de Almeida e Maria Augusta Tomaz. Assim, cercado o aparelho pela repressão, Arantes reagiu à prisão e foi assassinado. Maria Augusta, que estava ausente naquele momento, ouviu comentários de populares, nas imediações do aparelho, quando regressava a casa, a respeito do tiroteio ali travado e abandonou imediatamente a região. No dia seguinte, na rua Turiaçu, em SP, foi assassinado o comp. Francisco José de Oliveira (“Chico Dialético”) e ferida a companheira Maria Augusta Tomaz, que escapou à prisão. A hipótese que se tem para explicar esse encontro dos 2 comps. com a repressão é a seguinte: teria sido obra do acaso, não passando de um golpe ocasional de uma equipe da OBAN, em ronda, sob o comando do delegado Antônio Villela, que, suspeitando do casal, resolveu abordá-lo; sabe-se q. os 2 comps. estavam indo cobrir um ponto c/ Márcio Beck Machado (ponto que lhes fora passado por Hiroaki Torigoi), sendo certo que os comps. acharam estranha a situação na região do ponto, resolvendo afastar-se alguns poucos quarteirões, o que fizeram de ônibus. Entretanto, a repressão deve tê-los seguido, pois a abordagem se deu no momento mesmo em que desciam do ônibus. Existe, ainda, a seguinte versão da própria repressão: um comp. loiro havia aberto um ponto com Márcio Beck Machado naquela região. As equipes da OBAN encarregadas de cobrir o tal ponto já se estavam desmobilizando, após não ter aparecido pessoa alguma para cobri-lo, quando avistaram “Chico Dialético” e Maria Augusta na região, passando a segui-los. Observe-se que Márcio Beck nunca se referiu a esse ponto que teria com um comp. loiro, conforme diz a polícia, motivo pelo qual achamos que pode ter sido um ponto “frio” fornecido por Molina (comp. loiro), justamente naquele horário na mesma região. Sabe-se com certeza que no aparelho já referido, onde morreu Arantes, caiu uma relação de nomes que estaria camuflada no interior de um barbeador elétrico. Entre esses nomes, havia os de Edith Negraes, jornalista (presa anteriormente em dezembro de 69, ver item 18), Maria Luiza Bierrenback, advogada, Ramalho, diretor do Curso Universitário e Beatriz, ex-namorada de Lauriberto José Reys (militante do MOLIPO). Caiu, ainda, no aparelho, um passaporte de Maria Hermínia Souza Queiróz Telles, que teria sido usado por Maria Lúcia Alves Ferreira, quando esta saiu do país e, posteriormente, por outra companheira. Quanto a Molina e “Tenente”, há certeza quanto ao assassinato do primeiro (já que a própria repressão assume oficialmente a informação de sua morte), o que falta no caso do segundo, sendo certo que nunca mais se teve notícias dele. Não obstante, presume-se que foi a partir dessas quedas que a repressão colheu as informações que levaram ao assassinato do comp. Carlos Eduardo Pires Fleury, possivelmente na GB, em 10/12/71.
41- Em meados de outubro de 71, Munir Tahan Saab, ex-militante da ALN, entregou-se à polícia de SP, sob pretexto de conseguir tratamento médico p/ um ferimento a bala que lhe fora provocado em um tiroteio havido durante uma ação realizada em 5/10. A partir de sua prisão, sucederam-se misteriosamente algumas quedas que, concretamente, tendo em vista ser ele o único elemento preso naquela altura, só podem ser entendidas como resultado de informações por ele fornecidas. Assim, no dia 20 de novembro de 71, foi preso André Tsutomo Ota, militante do MOLIPO, quando saía da Cidade Universitária-USP, dirigindo seu automóvel. Munir não conhecia André legalmente, mas [ILEGÍVEL] estudava na Cid. Univ., sabia fornecer sua descrição física e sabia [ILEGÍVEL] características peculiares do carro de André, facilmente indentifi- [ILEGÍVEL] estes suficientes para levar à queda de André. Mais tarde, no dia 27/11/71, foi preso em circunstâncias estranhas Francisco Carlos de Andrade (“Vieira”), militante da ALN, em um ponto de ônibus da região do bairro do Ipiranga. É interessante saber que “Vieira” acabara de deixar alguns [ILEGÍVEL] de direção da ALN coincidentemente nas proximidades de sua casa, localizada no Bairro do Cambuci. Monir sabia que “Vieira” morava naquela região, além de poder descrever seu tipo físico, bastante característico. Finalmente, em 2/2/72, caiu a gráfica da ALN, responsável pela impressão do Jornal “Venceremos”, sendo aí presos Jorge Fidelino Galvão de [ILEGÍVEL] (“Cachimbo”) e Ladislau Crispin de Oliveira (“Lalau”). Monir não conhecia “Cachimbo” legalmente, mas sabia que ele era estudante de Economia na PUC-SP e que era o dirigente da gráfica. Outrossim, Monir abriu que Percival M. Maricato, que estava preso (ver item 37) conhecia a identidade legal de “Cachimbo”, motivo pelo qual Percival voltou a OBAN p/ ser reinterrogado. O fato é que Jorge e “Lalau” foram presos (obs.: como este balanço de dedica unicamente a relacionar os processos de quedas efetivas, não teceremos comentários sobre outras informações que Monir forneceu à repressão, mas não podemos deixar de nos referir aos esforços que o mesmo fez p/ identificar e derrubar Lídia Guerlenda (“Suora”), Antônio Carlos Nogueira Cabral (“[ILEGÍVEL]”), Gelson Reicher (“Marcos”) e Ronaldo [ILEGÍVEL] Queiroz (“Papa”), todos militantes da ALN. Posteriormente, Monir passou a “justificar” esses esforços com base em inconciliáveis divergências políticas com aqueles comps., nocivos, conforme sua visão, ao processo revol. bras. Além disso, houve a divulgação pela imprensa de uma carta de seu próprio punho, cujo conteúdo dispensa comentários). André Ota derrubou as seguintes pessoas: Marli Carvalheiro, Paulo Sacamoto e Edilson Pereira Santiago. “Vieira”, por sua vez, após 50 dias de prisão, passou a sair com a repressão em diligências pelas ruas da cidade; assim, no dia 18/1/72, nas proximidades do Shopping Center Iguatemi apontou Gilberto Telmo Sidney Marques (“Mauro”), militante da ALN, que foi preso. Dez dias mais tarde, em outra diligência, “Vieira” indicou Pedro Rocha Filho (“João”) e José Carlos Gianini (“Sérgio”), ambos militantes do MOLIPO, que foram presos. “Mauro”, de seu lado, abriu o aparelho em que residia com Eliane Potiguara Simões (“Joana”), presa após ser ferido a bala pela repressão; abriu um ponto com Alex Xavier Pereira (“Miguel”) e Gelson Reicher (“Marcos”), que foram assassinados; abriu ainda, Raimundo Leite de Almeida, mecânico, que prestava assistência à ALN e provocou a queda de vários militantes dos estados de PB, PE, CE. Entre esses foi responsável pela morte de João Mendes, em PE. “Mauro” coroou esse seu péssimo comportamento com uma carta enviada em agosto de 73 aos Juízes Militares de S. Paulo, renegando a revol.; antes, havia declarado em Juízo que “Tem nojo da ALN”. Passou, pois, p/ o rol dos traidores. Eliane abriu o Dr. Euclides Marques, cirurgião da equipe do Dr. Eurícledes de Jesus Zerbini, do Hosp. das Clínicas da FUMSP, que fora sequestrado p/ prestar assistência à comp. “Supra” quando uma explosão acidental que arrancou uma de sua mãos. O Dr. Euclides não havia denunciado o fato à polícia e foi, então, preso. Gianini abriu Márcia Aparecida do Amaral, que, por sua vez, abriu: Artur Machado Scavone (“Beto”); José Mauro Gagliardi (“Texas”), Milton Porsoni, Dorival Porsoni, Douglas Salvador Barreto, Mari Ramado (“Shiruca”) e Frederico Mayr (“Carlos”), tendo os 2 últimos caído no mesmo ponto. Frederico foi assassinado, sob tortura, na OBAN. “Shiruca” abriu ponto no bairro do Tatuapé com Lauriberto José Reys (“Cassius”) e José Ibsen Voeroes (“Bigodinho”), assassinados pela OBAN quando se aproximavam do local. “Beto” abriu sua namorada, Rosane Lourdes Silva que foi presa. Pedro Rocha abriu que ganhara um livro de sua amiga Yasuko Nosuone, moradora na mesma casa em que Pedro residia, o que provocou sua prisão por algumas horas. “Cachimbo” abriu Neide Barriguelli; José Ricardo Campolin (este como simpatizante do PC do B) e um filho do ex-Juiz do Trabalho Carlos Sá. “Lalau” abriu José Damião Lima Trindade e um outro, de nome Edjalma, que abriu Joly. Este abriu 2 comps. de Jundiaí (SP): Claudiney Cabral e Antônio [ILEGÍVEL]. “Lalau”, “assessorado” por “Cachimbo”, abriu um ponto com Yuri Xavier Pereira (“Joãozão”), o qual, mesmo ferido a bala pela repressão, conseguiu furar o cerco e pôr-se a salvo. Vale a pena dizer que Joly se acha totalmente “desbundado”, trabalhando no Juizado de Menores de Mogi das Cruzes, emprego obtido graças à recomendação do próprio comandante da OBAN, Major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Foi preso, também, o fiador da gráfica dirigida por “Cachimbo”, Dorival Rodrigues Alves.
42- No dia 5 de dezembro de 71, em S. Paulo, foi assassinado o comp. José Milton Barbosa (“Cláudio”). Nesse dia, José Milton, Linda Tayah e Gelson Reicher procuravam um médico que pudesse atender Lídia [ILEGÍVEL] uma explosão acidental [ILEGÍVEL] operação policial denominada “Coração [ILEGÍVEL] que então se travou, José Milton correu e Linda, ferida, foi presa. Gelson conseguiu furar o cerco e abandonar a região.
43 – No dia 5/1/72, em SP, após ter apanhado um carro expropriado com o [ILEGÍVEL] de 3 comps. (pois havia suspeita de o mesmo ter sido detectado [ILEGÍVEL] grande parte da cidade, neste caso em companhia de Pedro [ILEGÍVEL] Hiroaqui Torigei (“Décio”), foi baleado pela repressão e preso, [ILEGÍVEL] depois de ter deixado aquele comp. no bairro de Sta. Cecília, região [ILEGÍVEL] costumeiramente por “Décio” para estacionar carros expropriados. Parece segura, portanto a hipótese de que o carro havia mesmo sido [ILEGÍVEL] (pela chapa) e seguido pela repressão, que poderia ter momentaneamente perdido sua pista quando Pedro deixou Torigoi, para retomá-la logo em seguida e metralhar o comp. quando este abandonava o veículo; no entanto, não se pode afastar a possibilidade de o carro ter sido localizado no momento em que Torigoi o estacionava. Gravemente ferido, foi levado para a OBAN e assassinado sob torturas.
44- Em janeiro/72, na GB, foi preso, em circunstâncias desconhecidas, Hélcio Pereira Fortes (“Fradinho”). Sabe-se, porém, que “Fradinho” teria dito a alguém que iria cobrir um ponto com um casal legal que chegava do Chile e, posteriormente, falou-se que este casal fora preso na fronteira, quando entrava no país. Nada mais se ouviu falar desse casal, ficando como ponto a ser investigado. “Fradinho”, preso, foi levado p/ S.P., onde foi assassinado. Nessa época, foi presa Darcy Mjaki, em um ponto que teria com Hélcio e um casal (!), possivelmente ligado à imprensa da ALN. Note-se que foram presos, também, nesta época, Genésio Inácio de Souza e sua companheira Eliane (ver item 22), casal que estava encaminhado a montagem de uma gráfica p/ a imprensa orgânica, cujo contato era feito através de “Fradinho”. Através de Darcy, caíram Leonel Itaussu e seu pai, Fuad (presos pela segunda vez, ver item 29), Sumie Amano (irmã de Takao, ver item 11) e um médico, cujo nome desconhecemos.
45- No dia 21/1/72, em SP, na Av. Lins de Vasconcelos, foi assassinada a comp. Gastone Beltrão, logo após descer de um carro que estava sendo seguido pela equipe do delegado Fleury, do “Esquadrão da Morte”. É possível que a chapa do carro de que descera Gastone estivesse “queimada” desde a morte de Gelson Reicher e Alex Xavier Pereira, no dia anterior (ver item 41), em cujo carro pode ter caído o endereço de uma garagem particular alugada a militantes da ALN.
46- Em janeiro/fevereiro de 72, duas quedas misteriosas se verificarem em GO, resultando no assassinato de Jeová Assis Gomes e Arno Preiss, militantes do MOLIPO. Jeová foi assassinado no dia 9/1/72 na cidade de Guará, norte de GO. A versão que se tem sobre sua morte é a de que um elemento loiro levou a repressão até a pensão onde ele se hospedava; não o encontrando naquele local, a repressão localizou-o num campo de futebol, assistindo a uma partida. Jeová foi imediatamente fuzilado, sem qualquer possibilidade de reação. Dados mais recentes provindos da própria repressão indicariam que aquele elemento loiro responsável pela morte de Jeová poderia ser Boanerges de Souza Massa, que se encontra preso no quartel do 2º BPE, em S.P. Quanto a Arno Preiss, ele foi assassinado em 15/2, em Paraíso do Norte-GO. Sabe-se que Arno fora cobrir um ponto naquela localidade e teria sido abordado por alguns policiais, que lhe exigiram documentos de identidade. Reagindo imediatamente ao pressentir a possibilidade de ser preso, Arno teria eliminado um policial e ferido outro, refugiando-se em seguida numa mata próxima, onde continuou resistindo até ser assassinado. Além dessas quedas há uma série de fatos relatados pelos moradores de várias cidades de GO, referentes a prisão e mortes de militantes revol. Assim, fala-se de pri sões nas cidades de Pindorama, Porto Nacional, Natividade, etc. O relato de Natividade, leste de GO, dá conta da queda de 2 comp. (outra versão fala em apenas um), um dos quais teria se suicidado na prisão. Em Ponta Alta, fala-se da prisão de um casal. No geral, são prisões e mortes totalmente misteriosas, cujo esclarecimento é bastante demorado. É verdade, entretanto, que Boanerges Souza Massa pode ter tido participação, direta ou indireta, em algumas dessas quedas.
47- Em 11/5/72, na GB, José Pereira da Silva, militante da ALN, entregou-se à polícia. O fato é que, após a morte de sua comp. Gastone (ver item 45), José Pereira entrou em crise de vacilação ideológica, e culminando com o abandono, sem qualquer aviso aos comps., do aparelho que ocupava com outro militante. Viajando p/ a GB, José Pereira, através de seus familiares, acertou com a repressão as condições para entregar-se. Ao que parece, ele diz ter-se apresentado a fim de, nos cárceres, procurar Gastone, que ele [ILEGÍVEL] viva.
48- No dia 14/6/72, em SP, foram assassinados os comps. Yuri Xavier Pereira [ILEGÍVEL] Maria Kacinovic e Marcos Nonato da Fonseca, denunciados pelo proprietário de um restaurante em que almoçavam, no bairro da Moóca. Esse delator, Manoel Henrique de Oliveira, foi justiçado por um comando da ALN em [ILEGÍVEL].
49- Em junho/72, em Anápolis (GO), foi preso o comp. Hamilton Pereira da Silva, que para lá se deslocara, saindo de SP, a fim de verificar a situação naquela cidade goiana. Hamilton foi preso logo ao sair da Estação Rodoviária de Anápolis, por policiais da OBAN-SP. Desconhecemos as razões dessa queda. Também por motivos por nós ignorados, foram presos [ILEGÍVEL] mais tarde, a comp. e um amigo de Hamilton, este de nome [ILEGÍVEL]. [ILEGÍVEL] em SP, residia com [ILEGÍVEL] de Souza Lima, preso meses mais tarde em condições desconhecidas por nós, e com Henrique Ferreira de Carvalho. Este último, depois de ter permanecido no Chile durante os meses que se seguiram à prisão de Hamilton, regressou ao Brasil em fins de 72 e entregou-se à polícia federal de Belém (PA) ou de Brasília (DF), não sabemos ao certo. Em todo esse período, houve uma série de quedas de pessoas ligadas de algum modo aos acima citados, mas não temos maiores dados sobre as mesmas, a não ser o fato de terem sido processados, juntamente c/ Edmilson, cerca de 11 estudantes goianos.
50- Em julho/72, em SP, foram presos no interior de um bar, localizado no bairro de Vila Mariana, José Júlio de Araújo (“Jota Jota”) e sua companheira Valderez Nunes Fonseca, militantes da ALN. José Júlio foi, posteriormente, assassinado na OBAN, sob torturas.
51- Em meados de agosto/72, em SP, foi preso um estudante da Escola Paulista de Medicina, de nome Gilberto Tanus. Sua queda teria se dado através de um militante do PCB. Gilberto revelou os nomes de Walter Nascimento e Paulo Antunes Horta, que foram presos. Paulo indicou seu apartamento. No mesmo prédio, morava sua prima Maria Marta Silva Antunes, fato este relatado pelo zelador à repressão. Maria Marta foi presa e abriu Heloísa Bernardes e Ana Maria Barbosa.
52 – Em fins de outubro/72, em SP, teria sido preso em circunstâncias misteriosas um operário metalúrgico morador no bairro de Vila Carrão de nome Rubens Carlos Costa. Este operário fora, até fins de 69, contato de Otávio Ângelo – “Tião” (ver item 18), tendo sido recontatado, já em 71, por Antônio Benetazzo (a mando de “Tião”), vindo de Cuba. Preso, pode ter denunciado que Benetazzo e mais 2 militantes do MOLIPO, João Carlos Cavalcanti Reis e Natanael de Moura Girardi, frequentavam sua casa. Nessa ocasião, Rubens foi solto, com o compromisso firmado por escrito de denunciar quem lá aparecesse. Consta que Rubens se arrependeu e tentou suicidar-se com fogo. Benetazzo, entrementes, teria ido procurar Rubens no dia 28/10, sendo preso. Parece ter-se atirado sob as rodas de um caminhão, 2 dias depois, 30 de outubro, possivelmente com a intenção de, matando-se, avi sar seus comps. de que a casa de Rubens estava “queimada”. Neste mesmo dia, João Carlos Cavalcanti Reis (“Marcos”) e Natanael de Moura Girardi, talvez ainda desconhecendo a prisão de Benetazzo, ou não entendendo sua “advertência” ao matar-se, foram também à casa de Rubens. A repressão q. lá permanecera, assassinou “Marcos” e feriu Natanael que, mesmo assim, escapou à prisão.
53- No dia 15/12/72, em SP, ao descer de um táxi, foi presa a médica psiquiatra Regina Elza Solitrenick, por razões ignoradas. Regina levou à prisão de inúmeros estudantes que militavam no ME em 68, além de Consuelo de Castro, Eliana Nery Conde Malta e Maria Jurema Venceslau de Carvalho e seu marido Olavo. Informou, também, que Joel Rufino dos Santos (“Pedro Ivo”) a teria procurado, certa vez a pedido de um militante preso, para que colaborasse na montagem de um esquema médico p/ a ALN. Para prender Joel a repressão deteve inúmeras pessoas de seu círculo de amizades, conseguindo finalmente prendê-lo quando descia de um ônibus na GB. Joel, na verdade, encontrava-se desligado da ALN desde fins de 71. Assim mesmo, abriu vários conhecidos seus, vários na GB e muitos em SP, entre os quais Elza Edite Salek, Iracema Maria Nola Impig, Maria Cecília Albuquerque Maranhão, Otila [ILEGÍVEL], Olívia [ILEGÍVEL] e Ricardo Frota Maranhão, alguns dos quais permanecem detidos por várias semanas. Consta que, com as informações de Joel, a repressão prendeu vários militantes do PCB, incluídos em processo à parte.
54- No dia 15/3/73, em SP, no bairro da Penha, foram friamente assassinados, sem qualquer possibilidade de reação, os comps. Arnaldo Cardoso Rocha (“Gibóia”), Francisco Seiko Okama e Francisco Emanuel [ILEGÍVEL], desconhecendo-se até o momento o que possibilitou sua localização.
55- [ILEGÍVEL]/73, foram presas Arlete Lopes Diogo e [ILEGÍVEL esta última quem abriu Adriano [ILEGÍVEL] e [ILEGÍVEL], militantes da ALN, ambos estudantes de Geologia-USP. Alexandre foi assassinado sob tortura, na OBAN, em 17/3/73, no dia seguinte ao de sua prisão. “Mug”, dias mais tarde, abriu Paulo Pratasehi, quando Alberto Afonso Lázaro (“Babão”), da Geologia-USP, informou à repressão [ILEGÍVEL] conhecia Paulo. Quanto a “Babão”, não sabemos como foi [ILEGÍVEL]. Foram presos, ainda, [ILEGÍVEL] Luiz Valente e seu marido, Flávio [ILEGÍVEL] Borges Frasão. Em decorrência da prisão de [ILEGÍVEL], seu marido [ILEGÍVEL] apresentou-se à OBAN alguns dias depois. No dia 6/4/73, em plena via pública, foi assassinado Ronaldo Mouth Queiroz – “Papa”. Há 2 versões para explicar sua queda: ou ela se deu em ponto aberto por “Babão”, ou a partir de informações/investigações outras que teriam permitido seguir Queiroz por alguns tempos, antes de assassiná-lo, o que explicaria a queda de seu aparelho, invadido pela repressão, logo após sua morte.
56- Ao dia 5/5/73, em SP, foi preso novamente César Augusto Stephan Castiglioni (ver item 34), quando procurava avistar-se com sua genitora. César teria sido aberto por duas estudantes de Ciências Sociais, uma delas de nome Nádia Feres Vilela. César abriu: Delamare Machado da Silva, Edson Batista Félix Silva, João Bosco Coutinho Favacho e José Gomes Tinoco, sendo os 2 últimos militares da ativa – sargento e tenente, todos integrados no CSR (Comitê de Solidariedade aos Revolucionários). César abriu, ainda, Gabriel Prado Mendes, elemento pertencente a um grupo independente que mantinha contato com o MOLIPO. Gabriel ou César teriam aberto o aparelho do primeiro, onde foram presos Tânia Rodrigues Mendes, companheira de Gabriel, Idibal de Almeida Piveta, advogado, e Roberto Cunha Azzi, auxiliar de Idibal: os 2 últimos davam assistência jurídica à Tânia. Gabriel abriu um ponto com Irineu de Morais – “Índio”, preso mais uma vez (ver itens 7 e 17). Teria aberto, ainda, Fernando Casadei Sales, que foi detido juntamente c/ sua esposa Albertina Pedrassoli Sales, ambos presos pela segunda vez (ver item 22). Tânia, por sua vez, abriu Paulo Miguel Novaes e este abriu o advogado Eshid Tahan Saab, irmão de Monir Tahan Saab (ver item 41). Paulo No vaes, no afã de prestar informações à repressão, deduziu erroneamente que o autor de um documento de denúncia que alguém lhe passara, certa vez, era Antenor Meier. Em função disso, a OBAN deteve Aguinaldo Meier (ver item 36), irmão de Antenor, e que o visitava no presídio, para saber dele se havia recebido algum documento de seu irmão e passado adiante. Tânia ou Gabriel abriram também, José Carlos Miziara, estudante do curso experimental da FMUSP e da Física-USP, que foi preso em agosto/73 pelo DEOPS. Além de Miziara, soube-se da prisão de mais um elemento, ainda pelo DEOPS, em agosto /73, por informações de Miziara, Fernando Casadei abriu Djalma Querino de Carvalho e sua esposa Leila. Abriu, ainda, um ponto em Salvador (BA) onde foi preso Arno Brichta, apontado como elemento que deveria receber comps. vindos do exterior. Arno abriu um elemento de apoio do PC do B e daí teria se originado um processo de quedas dessa Organização. Através de Gabriel, Paulo Novaes e Irineu, foi localizada uma área de trabalho de campo situada em GO, entre as cidades de Jataí e Rio Verde. Nessa região teriam sido mortos Márcio Beck Machado e Maria Augusta Tomaz, militantes do MOLIPO. Deve-se ressaltar que César Castiglioni e Paulo Novaes transformaram-se, a partir de determinado momento, em verdadeiros colaboradores da repressão, em intensa atividade de delação.
57- No mês de julho/73, em SP, foram assassinados Luís José da Cunha (“Crioulo”), no dia 13, e Heuber José Gomes – “Euclides”, no dia 16, ambos militantes da ALN. “Crioulo”, quadro de direção, pode ter sido morto em um ponto com algum seu apoio pessoal, fora, portanto, do controle da ALN, ou com algum elemento da GB, tanto que para SP se deslocara uma equipe de policiais do R. de Janeiro especialmente p/ localizar “Crioulo”. Já “Euclides”, ao que consta, encontrava-se descontatado da ALN desde as quedas de março/73 e, provavelmente, foi localizado pela repressão ao encontrar-se com algum seu familiar.
58- Além de todos os processos de queda até aqui relacionados, dos quais temos um mínimo de informações, achamos necessário anotar possíveis casos de comps. mortos pela repressão e cujas mortes são mantidas em segredo pelos órgãos repressivos. Insistimos que são casos incertos, a maioria deles citados oficiosamente por fontes da própria repressão, indignas, portanto, de maior crédito. Assim, temos:
a) Do chamado “Grupo dos 28” do MOLIPO, a repressão afirma ter assassinado todos os “28” (entre os quais Rui Barbet “Osvaldão”), c/ exceção de: [ILEGÍVEL] Dirceu de Oliveira; 2- Natanael de [ILEGÍVEL] Girardi; 3- “Pedro” ou [ILEGÍVEL] identidade legal desconhecida pela repressão); 4 – João Leonardo [ILEGÍVEL] Rocha – “Saul”; 5- Otávio Ângelo – “Tião”; 6- Boanerges de Souza [ILEGÍVEL] (preso no 2º BPE).
b) Paulo de Tarso Celestino Silva – “Vovô”, quadro de direção da ALN, preso na GB em julho/71, juntamente com [ILEGÍVEL] Telles Guariba, ex-militante da [ILEGÍVEL]. Ambos teriam sido assassinados sob torturas.
c) [ILEGÍVEL] Dias de Oliveira, militante da ALN, ex-companheira de Geraldo [ILEGÍVEL], e Paulo César Botelho Massa, também militante da ALN, presos na GB no dia 31/1/72, e posteriormente assassinados sob torturas.
d) Maria do Amparo Araújo, irmã de Luís de Almeida Araújo – “Ludovico” (ver item 38), em data e local não sabidos.
e) José Sarroris, ex-militante da ALNS (1968) integrado nos quadros do RAN (Resistência Armada Nacionalista), morto, na GB, em 72 ou início de 73.
59 – OBSERVAÇÃO FINAL: para completar, relacionaremos os comps. de ALN e MOLIPO mortos em combate (mortes oficialmente divulgadas) ou em acidentes, cujos nomes não foram citados no texto acima, por fazerem parte de quedas não examinadas por nós:
a ) Luís Afonso Miranda da Costa Rego – “Nei” – 25/1/70 – GB – disparo acidental – ALN.
b) Eiraldo Palha Freire – 1/7/70 – sequestro “Caravelle” no Galeão – ALN.
c) Heloísa Ianni – “Gorda” – 20/12/70 – ALN, afogamento acidental no CE.
d) Aldo Sá Brito de Souza Netto – “Renê” – 12/1/71 – tortura em MG – ALN.
e) Mário de Souza Prata – 3/4/71 – combate – GB – ALN.
f) Marilene Villas Boas – 5/4/71 – tortura – GB – ALN.
g) Antônio Carlos Nogueira Cabral – “Chico” – 11/4/72 – combate – GB – ALN.
h) Aurora Maria Nascimento Furtado – “Lola” – tortura – GB – ALN.
i) Norgival Araújo – 7/5/73 – tortura – GB – ALN.