Os militares contra os “casacas”
Os militares que encamparam o movimento que destituiu o presidente da República João Goulart em 1964 nutriam, em geral, um sentimento de desprezo pelos “casacas”, os políticos identificados sobretudo com corrupção e trocas de favores. Nos primeiros anos da ditadura militar, um dos objetivos mais prementes do regime era moralizar a máquina pública, o que não era fácil, como vários oficiais logo perceberam.
Um exemplo desse sentimento de decepção para com os políticos pode ser percebido na carta do general João Costa, comandante da 6a Região Militar, com jurisdição sobre o estado da Bahia. A carta foi datilografada pelo próprio Costa em 2 de outubro de 1965 e enviada a seu amigo general Ernesto Geisel, então ministro-chefe do Gabinete Militar no governo Castello Branco.
Os militares que encamparam o movimento que destituiu o presidente da República João Goulart em 1964 nutriam, em geral, um sentimento de desprezo pelos “casacas”, os políticos identificados sobretudo com corrupção e trocas de favores. Nos primeiros anos da ditadura militar, um dos objetivos mais prementes do regime era moralizar a máquina pública, o que não era fácil, como vários oficiais logo perceberam.
Um exemplo desse sentimento de decepção para com os políticos pode ser percebido na carta do general João Costa, comandante da 6a Região Militar, com jurisdição sobre o estado da Bahia. A carta foi datilografada pelo próprio Costa em 2 de outubro de 1965 e enviada a seu amigo general Ernesto Geisel, então ministro-chefe do Gabinete Militar no governo Castello Branco.
Queixando-se da situação das finanças públicas na Bahia, o general Costa atacou fortemente os políticos: “Com a Revolução ou sem ela os políticos não se corrigem; apoiam-na, aderem, toleram-na, etc., mas continuam a praticar a sua democracia; a democracia do pouco trabalho, das grandes descomposturas, do privilégio de ganhar bem, excessivamente bem com correção monetária etc., de ter casa de graça, transporte de graça e também o direito de ser canalha, porque com tudo isso esse direito deveria ser-lhes cancelado...”
João Costa avisou a Geisel que este receberia a visita do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães. Descrito como um “integralista de velha cepa” e “homem de passado honesto”, Magalhães viria a Geisel pedir dinheiro para a prefeitura. “Se o governo quiser amparar a turma do Plínio Salgado [líder integralista] é só conceder”, escreveu o general Costa, que já tivera desentendimentos com ACM.
Apesar de sua veemência contra a mesquinharia dos políticos “casacas”, especialmente contra seus privilégios, o general João Costa por vezes deixava de lado os grandes problemas nacionais e focava em preocupações mais prosaicas. Foi o que revelou em carta de 1o de janeiro de 1966, em que detalhou a Geisel um pedido feito ao presidente Castello Branco para ser removido para Washington, nos Estados Unidos, “a fim de melhor poder atender financeiramente a recuperação” de um familiar, que precisaria de “tratamento em um centro mais adiantado”.