Marqueteiro do regime
Em abril de 1982, José Sarney era o presidente do PDS, o partido do governo, e em novembro seria realizada a primeira eleição direta para governadores desde 1965. O mandarim do regime encaminhou ao professor João Leitão de Abreu, chefe do Gabinete Civil, um documento de 16 páginas. Nele, propunha uma estratégia para as eleições de 1982, quando seriam eleitos também deputados e senadores.
Era uma radiografia da situação do partido. Antevia a derrota em São Paulo e no Paraná, onde seriam eleitos, respectivamente, os oposicionistas Franco Montoro e José Richa. Achava que o PDS tinha chances em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Enganou-se, pois elegeram-se Tancredo Neves e Leonel Brizola.
Em abril de 1982, José Sarney era o presidente do PDS, o partido do governo, e em novembro seria realizada a primeira eleição direta para governadores desde 1965. O mandarim do regime encaminhou ao professor João Leitão de Abreu, chefe do Gabinete Civil, um documento de 16 páginas. Nele, propunha uma estratégia para as eleições de 1982, quando seriam eleitos também deputados e senadores.
Era uma radiografia da situação do partido. Antevia a derrota em São Paulo e no Paraná, onde seriam eleitos, respectivamente, os oposicionistas Franco Montoro e José Richa. Achava que o PDS tinha chances em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Enganou-se, pois elegeram-se Tancredo Neves e Leonel Brizola.
Sarney descreveu as iniciativas marqueteiras que ajudariam o partido e, ao final, acrescentou um parágrafo premonitório: “Também deveriam ser estudadas — apenas como uma fonte de lembrança — providências governamentais, no sentido de um congelamento de preços por determinado período de modo efetivo e punitivo contra a prática abusiva, que hoje se verifica na economia brasileira, burlando a lei do mercado de acordo de preços, o que penaliza o consumidor e defende unilateralmente os lucros dos produtores”.
O governo do presidente João Figueiredo desprezou a proposta. Dois anos depois, numa reviravolta da política brasileira, Sarney deixou o partido do governo, filou-se ao PMDB e tornou-se candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo oposicionista Tancredo Neves. Tancredo adoeceu e morreu sem assumir a Presidência. Sarney foi para o Planalto em 1985 e preparou-se para a eleição de 1986.
Meses antes do pleito, seguiu o conselho que dera ao governo em 1982. Em 28 de fevereiro de 1986 baixou o Plano Cruzado, congelou os preços, gerentes de supermercados foram presos e o país teve a sensação de que a inflação estava domada. Naquele ano o PMDB elegeu 22 dos 23 governadores. Foi o maior êxito eleitoral de um partido político brasileiro. Pouco tempo depois, o Plano Cruzado naufragou e o país entrou numa espiral inflacionária da qual só sairia em 1984.