Lula faz acordo e encerra greve no ABC
Em 1979, a grande greve dos metalúrgicos do ABC paulista se tornou um dos maiores problemas enfrentados pelo presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), cujo governo mal começara. Bem organizada e resistente, suas assembleias, com adesão inédita, ocorriam no estádio municipal de São Bernardo, em Vila Euclides, já que a sede do sindicato ficara pequena demais para tanta gente. Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, liderava o movimento.
Em 1979, a grande greve dos metalúrgicos do ABC paulista se tornou um dos maiores problemas enfrentados pelo presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), cujo governo mal começara. Bem organizada e resistente, suas assembleias, com adesão inédita, ocorriam no estádio municipal de São Bernardo, em Vila Euclides, já que a sede do sindicato ficara pequena demais para tanta gente. Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, liderava o movimento.
Os grevistas, que somavam 210 mil trabalhadores, pediam a reposição da inflação no salário e a criação da figura do delegado sindical, com direito a estabilidade no emprego. O empresariado preparara-se e dividira o movimento, isolando o ABC. A greve foi declarada ilegal e a polícia foi para a rua, dissolvendo piquetes e fazendo algumas prisões. No governo do estado havia um novo personagem, Paulo Maluf, disposto a mostrar a que vinha, e seu secretário de Segurança argumentava: “O espancamento às vezes é uma atitude enérgica, mas não tem nada de exagerado”.
No décimo dia de greve, uma proposta patronal foi apresentada aos grevistas e aceita por alguns dirigentes do ABC. Habitualmente, essa aceitação seria suficiente para o fim da greve. A peãozada votaria com a proposta dos dirigentes. Porém, quando Lula chegou ao estádio da Vila Euclides percebeu que a assembleia não queria o acordo. Por recusá-lo, o sindicato sofreu intervenção no dia seguinte.
Contados já treze dias de paralisação e três de intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos, o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, pediu ao empresário Paulo Francini, do núcleo de negociadores da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que negociasse com Lula o fim da greve, oferecendo-lhe a devolução do sindicato. Francini convidou Lula para um encontro sigiloso no escritório de Claudio Bardella, um dos barões da indústria pesada.
O acordo foi finalmente alcançado. Seus termos foram anotados pelo próprio Bardella em três folhas de bloco: o sindicato seria devolvido, não haveria demissões, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) seria avalista de uma renegociação e o salário de março não teria desconto imediato dos dias parados — as parcelas do desconto ficariam conhecidas como “carnê Lula”. Ao pé das anotações, as quatro palavras essenciais: “Antes: volta ao trabalho”.
Foto do destaque: Fernando Pereira/CPDoc JB