A infância de Geisel
Augusto Geisel, pai do futuro general e presidente da República Ernesto Geisel, chegou ao Brasil emigrado da Alemanha em 1883, quando tinha apenas 16 anos e ainda carregava o nome germânico: Wilhelm August Geisel. Fixado no lugarejo de Estrela (RS), casou-se com Lídia Beckmann, com quem teve cinco filhos: Amália, Henrique, Bernardo, Orlando e o caçula Ernesto. A família vivia num ambiente de pobreza europeia: faziam em casa as roupas das crianças, o pão, os licores, o sabão e as linguiças e criavam galinhas. Mas não tinham acesso nem a eletricidade nem a água encanada.
Augusto Geisel, pai do futuro general e presidente da República Ernesto Geisel, chegou ao Brasil emigrado da Alemanha em 1883, quando tinha apenas 16 anos e ainda carregava o nome germânico: Wilhelm August Geisel. Fixado no lugarejo de Estrela (RS), casou-se com Lídia Beckmann, com quem teve cinco filhos: Amália, Henrique, Bernardo, Orlando e o caçula Ernesto. A família vivia num ambiente de pobreza europeia: faziam em casa as roupas das crianças, o pão, os licores, o sabão e as linguiças e criavam galinhas. Mas não tinham acesso nem a eletricidade nem a água encanada.
Ernesto era o mais ligado à mãe, que lhe pagava um vintém por lição de leitura. Quis ser carreteiro, pensou em sair de casa atrás do elefante e dos saltimbancos de um circo e chegou a pedir a ela que arrumasse suas coisas para a partida. Conheceu a adversidade quando começou a frequentar o grupo escolar. Enxergava mal e o pai o levou a um médico em Caxias do Sul. De acordo com o diagnóstico, corria o risco de ficar cego e a recomendação era evitar leituras. Além disso, o médico considerou inútil mantê-lo em colégio, pois não conseguiria acompanhar as lições.
A vida escolar exigiu do jovem uma carga emocional adicional que marcou a sua personalidade. Não bastava que aprendesse, ele tinha de provar o tempo todo que não era incapaz. Numa carta escrita aos irmãos quando tinha dez anos, ele dizia: “No collégio vou bem, já estou aprendendo as frações ordinárias.” Ele estava inscrito como ouvinte, assistia às aulas, mas não era cobrado como os demais alunos. Contudo, concluiu o curso elementar entre os melhores da turma.
Ernesto Geisel não ficou cego. Ele padecia de uma disfunção resultante do desenvolvimento desigual dos olhos. Nesses casos, se uma vista enxerga menos, o sistema nervoso central, incapaz de trabalhar com duas imagens diversas, dispensa a mais fraca, mas o olho débil continua ativo. Se o outro é obliterado, o cérebro capta imediatamente a má imagem. A anomalia associa-se a um forte estrabismo, e a falta da visão dupla resulta na perda da percepção de profundidade.
A disfunção ocular o impediria de entrar no Colégio Militar, assim mesmo ele tentou. Ao se submeter aos exames médicos feitos pelos militares, estava com os batimentos do coração acelerados. Um médico atribuiu a taquicardia ao excesso de carnes incluídas na dieta dos gaúchos. “Para mim foi um alívio”, contaria posteriormente Geisel, “porque percebi que eles estavam preocupados com o meu coração, onde eu não tinha nada. Voltei e fui aprovado.”
Geisel evitava falar sobre o problema em sua visão e nunca tirou carteira de motorista, para não precisar se submeter ao tradicional exame de vista.