A impressão geral de Golbery
O general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência ligado à Presidência da República, inaugurou a prática de enviar semanal ou quinzenalmente ao presidente Castello Branco (1964-1967) um documento intitulado Impressão Geral, com uma análise da situação política no país. Eram maços de até sete folhas datilografadas em espaço apertado, todas com a marca de “secreto”.
Uma das questões mais espinhosas para o regime era o uso, cada vez mais frequente, da tortura entre presos políticos nos quartéis, fato que o governo não admitia existir. Na Impressão Geral no 4, redigida nos primeiros dias de setembro de 1964, Golbery referia-se assim a denúncias de tortura:
O general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência ligado à Presidência da República, inaugurou a prática de enviar semanal ou quinzenalmente ao presidente Castello Branco (1964-1967) um documento intitulado Impressão Geral, com uma análise da situação política no país. Eram maços de até sete folhas datilografadas em espaço apertado, todas com a marca de “secreto”.
Uma das questões mais espinhosas para o regime era o uso, cada vez mais frequente, da tortura entre presos políticos nos quartéis, fato que o governo não admitia existir. Na Impressão Geral no 4, redigida nos primeiros dias de setembro de 1964, Golbery referia-se assim a denúncias de tortura:
Manifestações incontroladas e emocionais da “linha dura” no setor das investigações e inquéritos (...) continuaram a intranquilizar o país, prejudicando a imagem da autoridade constituída do governo federal, e dando alguma substância a denúncias, em grande parte exageradas embora, de perseguições e torturas que estariam ocorrendo, sobretudo no Nordeste. Tudo isso em desfavor, no campo internacional, do crédito que já vem a duras penas granjeando a Revolução e o atual governo em seus sinceros propósitos de normalização da vida do país.
A maioria dessas denúncias havia sido publicada no Correio da Manhã. No dia 13 de agosto de 1964, por exemplo, o jornal informara que um médico que organizava camponeses no sudoeste do Paraná ficara cego de um olho seis dias após ser preso pelo Exército.
Castello Branco enviou então o chefe do Gabinete Militar, Ernesto Geisel, em missão especial ao Nordeste, ao Rio de Janeiro e a São Paulo para averiguar essas possíveis ocorrências. Em 1967, quando estava no Superior Tribunal Militar, Geisel revelaria que durante sua missão apenas um “reduzido número de casos em que havia indícios de torturas (...) teria ocorrido na fase inicial da Revolução e não teria estendido além de 10 de maio do mesmo ano”.
Na Impressão Geral no 4, bem como nas outras dezoito existentes, a tortura não foi apresentada corretamente por Golbery, nem no seu alcance nem no seu efeito. Não chegam a dez as linhas que lhe foram dedicadas. Em todos os casos ela foi mencionada como uma consequência de ações da linha dura, quando, na realidade, a maneira como o governo a enfrentava fornecia aos radicais o alicerce de indisciplina e ilegalidade sobre o qual se edificaria a ditadura.