Golbery avisou que ia embora
Depois da divulgação das conclusões do Inquérito Policial-Militar (IPM) do atentado a bomba no Riocentro, ocorrido em 30 de abril de 1981 no Rio de Janeiro, o chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva, chamou à sua sala Heitor Ferreira, secretário do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985). O assunto era uma carta que Golbery estava redigindo. Após o encontro, Heitor registrou em seu diário:
[Golbery] Disse-me que depois da sesta vai terminar de rabiscar o negócio e me chama para lermos juntos. Depois passa a limpo e dá-me para tirar uma xerox. E aí, racionalizou:
Depois da divulgação das conclusões do Inquérito Policial-Militar (IPM) do atentado a bomba no Riocentro, ocorrido em 30 de abril de 1981 no Rio de Janeiro, o chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva, chamou à sua sala Heitor Ferreira, secretário do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985). O assunto era uma carta que Golbery estava redigindo. Após o encontro, Heitor registrou em seu diário:
[Golbery] Disse-me que depois da sesta vai terminar de rabiscar o negócio e me chama para lermos juntos. Depois passa a limpo e dá-me para tirar uma xerox. E aí, racionalizou:
Quero que fique com você, porque aí serão duas pessoas a saber e com você é mais seguro que comigo, caso me aconteça alguma coisa (de saúde! pelo que entendi); e é preciso que eu tenha essa cópia, por algum tempo, por dois motivos: primeiro porque posso querer saber exatamente o que eu disse, com precisão, sem dar margem a discussões, para um segundo lance, em que eu precise fazer referências; segundo (e foi enfático), como defesa! Posso ter que me defender!
Tratava-se de uma carta “estritamente pessoal — confidencial” para Figueiredo. Nela, o general era duro ao comentar as conclusões do IPM que fraudara as circunstâncias do atentado no Riocentro. Na ocasião, os dois militares responsáveis pela ação foram apontados pelo inquérito como vítimas de atentado que teria sido cometido por um grupo da esquerda radical. “Exagero, o seu tanto ridículo, foi a tentativa de apresentar os dois participantes como vítimas de criminosos desconhecidos e embuçados…”, dizia Golbery na carta.
Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), o general Octavio Medeiros dissera a Golbery que “o Riocentro tinha sido coisa do Coelho Netto”. Referia-se ao general José Luiz Coelho Netto, um poderoso oficial que servira no Centro de Informações do Exército (CIE) e comandava a guarnição de Minas Gerais. Para Golbery, estava evidente que militares próximos à Presidência planejaram e executaram atentados terroristas. Dizendo “algo precisa ser feito”, Golbery propõe então a extinção “dos chamados DOI-CODI”, bem como uma “discreta remontagem” do CIE.
O general não pretendia mais influir no governo. Isso fica claro na abertura e no fecho da carta. Nem “prezado”, nem “caro”, simplesmente “presidente”. Nem “atenciosamente”, muito menos “cordialmente”, apenas “Golbery”. Era uma carta de rompimento.
Figueiredo jamais reconheceu ter recebido essa carta. Quando Golbery a divulgou, não rebateu seu conteúdo.
Os dois nunca mais se viram.