Figueiredo e os presos políticos da “Ilha do Diabo”
No dia 5 de maio de 1975, 33 prisioneiros assinaram um manifesto para os “senadores e deputados federais representantes do Estado do Rio de Janeiro no Congresso Nacional”, reclamando das “brutalidades” praticadas contra presos políticos e comuns no Instituto Penal Candido Mendes, em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), conhecido como “Ilha do Diabo”. Além de denunciar as condições deploráveis vividas no presídio, a ação tinha o objetivo de anunciar a realização de uma greve de fome. O documento chegou ao general João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente da República.
No dia 5 de maio de 1975, 33 prisioneiros assinaram um manifesto para os “senadores e deputados federais representantes do Estado do Rio de Janeiro no Congresso Nacional”, reclamando das “brutalidades” praticadas contra presos políticos e comuns no Instituto Penal Candido Mendes, em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), conhecido como “Ilha do Diabo”. Além de denunciar as condições deploráveis vividas no presídio, a ação tinha o objetivo de anunciar a realização de uma greve de fome. O documento chegou ao general João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente da República.
O presídio era um dos destinos das dezenas de presos políticos durante o regime militar, especialmente nos anos 1970. Não era a primeira vez que a instalação servia a esse propósito: depois da Intentona Comunista de 1935, vários militantes e simpatizantes comunistas foram presos e enviados para lá. Entre eles esteve o escritor Graciliano Ramos, detido por quase um ano (entre 1936 e 1937), experiência que gerou uma de suas mais importantes obras, Memórias do cárcere.
Ao ler o manifesto, Figueiredo agiu como de hábito: grifou e numerou trechos que considerou relevantes, respondendo-os em folhas à parte. Exemplos:
OS PRESOS: Nós, presos políticos (...).
FIGUEIREDO: Por que presos políticos?
[...]
OS PRESOS: O presídio da Ilha Grande ocupa um lugar especial, pois as brutalidades praticadas contra presos políticos e comuns há cerca de meio século lhe garantiram a fama de presídio-castigo e tornaram este local conhecido como “Ilha do Diabo”.
FIGUEIREDO: Não é verdade! As informações a que se chegou são até elogiáveis quanto ao tratamento dispensado. As falhas ou deficiências não decorrem da vontade expressa dos carcereiros e não se constituem em brutalidades.
[...]
OS PRESOS: A alimentação é de péssima qualidade, não suprindo nossas necessidades básicas.
FIGUEIREDO: Se não supre as necessidades básicas, pelo tempo que estão presos, já muitos teriam morrido...
Após vinte dias de greve de fome, a solução do presidente Ernesto Geisel foi atender às reivindicações, transferindo os presos para outras localidades. Geisel então comentou com Heitor Ferreira, seu secretário: “Ceder a uma greve é duro, mas eu prefiro ceder.”
Foto do destaque: Florian Kopp/Alamy/Latinstock