Elbrick: “Brasil em estado de insurreição”
No fim de fevereiro de 1970, o Washington Post, principal jornal da capital dos Estados Unidos, publicou o editorial “Opressão no Brasil”, criticando duramente o governo brasileiro por adotar a prática de tortura nos interrogatórios de presos políticos: “Embora tenham um longo caminho a seguir antes de superar a Grécia ou o Haiti na tortura de presos políticos, os ditadores militares que dirigem o Brasil estão indo rápido”. Àquela altura, já havia uma rede de informações organizada para denunciar as violações aos direitos humanos e a situação nas prisões no país.
No fim de fevereiro de 1970, o Washington Post, principal jornal da capital dos Estados Unidos, publicou o editorial “Opressão no Brasil”, criticando duramente o governo brasileiro por adotar a prática de tortura nos interrogatórios de presos políticos: “Embora tenham um longo caminho a seguir antes de superar a Grécia ou o Haiti na tortura de presos políticos, os ditadores militares que dirigem o Brasil estão indo rápido”. Àquela altura, já havia uma rede de informações organizada para denunciar as violações aos direitos humanos e a situação nas prisões no país. Integrava a rede, por exemplo, o grupo autointitulado Amigos Americanos do Brasil, formado na Universidade de Berkeley, na Califórnia, pelo professor Ralph della Cava, um dos responsáveis pela publicação do informe Brazilian Information Bulletin.
O editorial do Washington Post pegou a embaixada brasileira de surpresa. Para tratar da questão, o chanceler brasileiro Mario Gibson Barboza convocou ao seu gabinete o então embaixador americano, Charles Elbrick (o mesmo que, em setembro do ano anterior, havia sido sequestrado pela esquerda armada brasileira e virado moeda de troca na libertação e extradição de presos políticos para o México). Gibson mostrou-lhe o editorial e disse que o texto poderia funcionar como uma bola de neve junto à opinião pública americana, acrescentando que, nesse caso, “o efeito sobre nossas relações será incalculável”. A ameaça surtiu efeito.
Na manhã de 4 de março de 1970, Elbrick telegrafou para Washington. Recomendava que o Departamento de Estado intercedesse junto à imprensa “para colocar esse assunto na sua perspectiva”. E concluiu: “Não há dúvida de que existe um estado de insurreição limitada no Brasil, e o governo se sente obrigado a tomar medidas necessárias à sua defesa. Isso pode ou não envolver tortura, sistemática ou eventual, mas também deve ser lembrado que terroristas estão recorrendo a violência, assassinato, sequestro e assaltos”.
Dias depois da publicação do editorial, o embaixador do Brasil, Mozart Gurgel Valente, escreveu uma carta ao jornal argumentando que o tratamento dispensado aos presos políticos no Brasil era correto. No mesmo dia o jornal publicou outra carta, esta do ex-secretário de Estado Dean Acheson, defendendo as relações dos Estados Unidos com as ditaduras de Haiti, Portugal, Grécia, África do Sul e Rodésia. Gurgel Valente se queixaria das companhias em que Acheson colocara o Brasil.
No dia 11 de junho de 1971, conversando com o presidente Richard Nixon (que gravava tudo o que se dizia no Salão Oval da Casa Branca), o secretário de Estado Henry Kissinger chamou Elbrick de “idiota”. Kissinger era um defensor de todos os sistemas repressivos existentes na América Latina.
Leia o telegrama a seguir: