Brasileiros muniam de informações embaixada americana no Rio
Em encontros com o embaixador Lincoln Gordon, o banqueiro Walther Moreira Salles previu a queda de Jango
Os documentos americanos produzidos no Brasil nos meses que antecederam o golpe de 1964 revelam o nome dos brasileiros que abasteciam a embaixada, no Rio de Janeiro, com opiniões e informações sobre os rumos do governo João Goulart. Uma das personalidades mais procuradas pelo então embaixador Lincoln Gordon para consultas era o bem-sucedido empresário, banqueiro e também diplomata Walther Moreira Salles.
Os documentos americanos produzidos no Brasil nos meses que antecederam o golpe de 1964 revelam o nome dos brasileiros que abasteciam a embaixada, no Rio de Janeiro, com opiniões e informações sobre os rumos do governo João Goulart. Uma das personalidades mais procuradas pelo então embaixador Lincoln Gordon para consultas era o bem-sucedido empresário, banqueiro e também diplomata Walther Moreira Salles.
Herdeiro de uma pequena casa bancária em Poços de Caldas, Minas Gerais, ele se transformara em um dos brasileiros mais bem-relacionados no exterior no século XX. Moreira Salles havia servido os presidentes Getulio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e o próprio João Goulart. Do primeiro, ganhara a indicação de embaixador em Washington, em 1952. Do último, fora ministro da Fazenda durante o parlamentarismo (1961-1963) instituído após a renúncia de Jânio Quadros.
Em um almoço com Gordon em 22 de novembro de 1963 (por coincidência, dia do assassinato do presidente John F. Kennedy, no Texas), cujo teor o embaixador repassou em telegrama ao Departamento de Estado, Moreira Salles contou ter recusado um convite de Goulart para assumir novamente a embaixada em Washington. O motivo da recusa teria sido o alinhamento à esquerda de Jango, reprovado por Moreira Salles.
Segundo o relato do diplomata, o empresário voltava de uma recente viagem a Nova York e Washington e encontrara o presidente antes e depois da ida aos Estados Unidos. Ainda conforme Gordon, Moreira Salles previu um cenário catastrófico para o futuro, caso o governo não implementasse reformas urgentes. Também abordaram interesses americanos no Brasil, como a reestatização da empresa de energia Amforp, pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado de Jango, e o projeto de lei que controlava a remessa de dinheiro para o exterior, apoiado pelo presidente.
Na segunda semana de dezembro de 1963, em novo encontro entre Gordon e Moreira Salles, o empresário reforçaria sua preocupação com a possiblidade de caos na política e na economia, com alta da inflação e crescimento do desemprego, e condenaria as ações hostis do governo em relação ao capital estrangeiro. Era o início do debacle da gestão Jango, cujo fim, em 1o abril de 1964, Moreira Salles acompanharia de Paris, para onde se mudara com a família no início daquele ano.