As bênçãos do arcebispo
Em 17 de janeiro de 1974, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio Sales, enviou uma carta ao general Ernesto Geisel cumprimentando-o por sua vitória no Colégio Eleitoral, dois dias antes, na eleição para presidente da República. O arcebispo oferecera-lhe “a contribuição de minhas orações”, mostrando-se esperançoso de que “não lhe faltarão forças e ajuda de Deus, para um governo de justiça, paz e progresso”. Geisel agradeceu, chamando-o de “bom pastor” em um telegrama direcionado à Arquidiocese.
Em 17 de janeiro de 1974, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio Sales, enviou uma carta ao general Ernesto Geisel cumprimentando-o por sua vitória no Colégio Eleitoral, dois dias antes, na eleição para presidente da República. O arcebispo oferecera-lhe “a contribuição de minhas orações”, mostrando-se esperançoso de que “não lhe faltarão forças e ajuda de Deus, para um governo de justiça, paz e progresso”. Geisel agradeceu, chamando-o de “bom pastor” em um telegrama direcionado à Arquidiocese.
Geisel enquadrava a questão da Igreja no seu universo de hierarquias e preferências. Havia os cardeais bons e os ruins, os canais de entendimento possíveis e os espúrios, os temas discutíveis e os intocáveis. No campo das preferências, dom Eugênio era um bom cardeal. Também eram bons os cardeais Vicente Scherer, de Porto Alegre, e Avelar Brandão, de Salvador. Ruim era dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo. O presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Aloísio Lorscheiter, arcebispo de Fortaleza, estava classificado entre os maus bispos.
Luterano por hábito familiar, o general Geisel era um agnóstico discreto e anticlerical assumido. Acreditava quando muito na existência de uma força criadora do Universo, a qual, no entanto, seria um ente da física, não uma divindade. Nunca se dirigira ao sobrenatural. Entendia as religiões como sacrários de princípios. Lembrava-se dos padres em Bento Gonçalves, sua cidade natal, no Rio Grande do Sul, ameaçando com o Inferno quem entrasse em templo protestante, e da professora de primário, ensinando que a Santa Madre era a Igreja “única e verdadeira”. Para ele, seria melhor que a Igreja tivesse “uma só voz”. Era impossível.