A madrugada em que a nação ficou acéfala
Auro Moura Andrade declarou vaga a Presidência enquanto Jango ainda estava em território nacional
“Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República.” Com essas palavras, o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, anunciou a um tumultuado Congresso Nacional, na madrugada do dia 2 de abril de 1964, que João Goulart não era mais o presidente do Brasil. Jango estava em Porto Alegre. Na gritaria que se seguiu à fala de Auro, o deputado Almino Afonso ouviu Tancredo Neves, líder do governo na Câmara, gritar: “Canalha! Canalha!”.
“Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República.” Com essas palavras, o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, anunciou a um tumultuado Congresso Nacional, na madrugada do dia 2 de abril de 1964, que João Goulart não era mais o presidente do Brasil. Jango estava em Porto Alegre. Na gritaria que se seguiu à fala de Auro, o deputado Almino Afonso ouviu Tancredo Neves, líder do governo na Câmara, gritar: “Canalha! Canalha!”.
No dia 1o de abril, após a rebelião, Jango saíra do Rio de Janeiro em direção a Brasília. Na capital, despachara esposa e filhos para o Rio Grande do Sul. Paralelamente, Moura Andrade articulava o apoio do Congresso ao golpe. Por volta das 2h40 da madrugada, anunciou oficialmente a vacância da Presidência. O presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli, foi empossado no palácio do Planalto numa cena bizarra, pois Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil de Goulart, ainda estava no prédio. A pequena comitiva de Auro foi acompanhada pelo diplomata americano Robert Bentley. O deputado Luís Viana Filho subiu as escadas acendendo fósforos.
De acordo com a Constituição vigente em 1964, o cargo de presidente só poderia ser considerado vago se seu ocupante estivesse fora do território nacional. “O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala. Numa hora gravíssima da vida brasileira em que é mister que o chefe do Estado permaneça à frente do seu governo”, afirmou Moura. Jango estava deposto.
No dia 2 de abril, quando o serviço já estava feito, o embaixador americano Lincoln Gordon apontaria suas dúvidas à Casa Branca: Jango não deixara o país, seu impedimento não fora votado pelo Congresso e, apesar da presença do presidente do Supremo Tribunal Federal na cena, a Corte não tratara do assunto.