O golpe militar brasileiro na TV americana dos anos 1960
Em programa de entrevista, Lacerda negou interferência dos EUA na queda de Goulart mesmo após impressionante aparte de espectador
Em 1967, Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara e um dos principais adversários de João Goulart em 1964, foi convidado para dar uma entrevista no programa da TV americana Firing Line, apresentado pelo jornalista William F. Buckley Jr. O auge da entrevista, que se concentrou nos desafios para a implantação da democracia no Brasil e na América Latina, foi uma revelação feita por um dos membros da plateia, ao perguntar sobre o envolvimento dos Estados Unidos no golpe que tirara Goulart da Presidência.
Em programa de entrevista, Lacerda negou interferência dos EUA na queda de Goulart mesmo após impressionante aparte de espectador
Em 1967, Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara e um dos principais adversários de João Goulart em 1964, foi convidado para dar uma entrevista no programa da TV americana Firing Line, apresentado pelo jornalista William F. Buckley Jr. O auge da entrevista, que se concentrou nos desafios para a implantação da democracia no Brasil e na América Latina, foi uma revelação feita por um dos membros da plateia, ao perguntar sobre o envolvimento dos Estados Unidos no golpe que tirara Goulart da Presidência.
Afirmando que se encontrava dentro um contratorpedeiro americano nos dias do levante militar, esse espectador contou que o navio seguia em direção ao Brasil, mas retornou aos Estados Unidos quando o êxito do golpe foi anunciado. Mesmo com o testemunho, Lacerda negou a participação dos Estados Unidos no episódio, citando um estudo feito por um professor americano que concluiu não haver evidências de interferência americana na ocasião.
Um ano depois, em 1968, a informação foi divulgada no Brasil pelo jornal Última Hora, porém caiu no esquecimento. Somente no final de 1976, doze anos após a implantação do regime militar e nove após a entrevista de Lacerda, os detalhes da Operação Brother Sam foram delineados em reportagens de Marcos Sá Corrêa, no Jornal do Brasil, revelando o tamanho da força-tarefa americana com base em documentos da Biblioteca Lyndon Johnson.
No ar de 1966 a 1999, totalizando mais de 1.500 episódios, o programa Firing Line recebeu personalidades como os presidentes americanos Jimmy Carter e Ronald Reagan e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Morto em 2008, Buckley foi um dos proeminentes de uma renovação do conservadorismo nos Estados Unidos. Fundador da revista National Review e autor de mais de 50 livros, seu trabalho intelectual teve grande importância ao unir a defesa das tradições americanas ao não intervencionismo estatal na economia, base do pensamento conservador americano contemporâneo.
Em 1971, quando Buckley condenou a censura imposta à imprensa brasileira, o então ministro da Educação Jarbas Passarinho classificou-o como “uma pena a serviço das esquerdas” numa carta ao presidente Emílio Garrastazu Médici.