Simonsen tenta evitar volta de Delfim
O general João Baptista Figueiredo (1979-1985), após ser eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, em 1978, iniciou a montagem de seu governo, anunciado como uma gestão de mudanças. Uma delas estava na definição da equipe que comandaria a economia, área sensível do novo governo, que começava em meio a uma crise econômica e se preparava para um período de recessão.
O general João Baptista Figueiredo (1979-1985), após ser eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, em 1978, iniciou a montagem de seu governo, anunciado como uma gestão de mudanças. Uma delas estava na definição da equipe que comandaria a economia, área sensível do novo governo, que começava em meio a uma crise econômica e se preparava para um período de recessão.
No fim de 1978, Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda do antecessor de Figueiredo, Ernesto Geisel (1974-1979), tentava sair do governo. Ele tinha horror à pompa do poder e, acima de tudo, sabia que os números da economia eram ruins e haveriam de piorar. Inicialmente, recusou os convites para permanecer. Simonsen só continuaria no governo de Figueiredo se este decidisse apertar a economia com uma recessão que duraria até dois anos. Simonsen imaginava-se na condição de superministro da Economia.
O professor mostrou-se particularmente preocupado com as notícias segundo as quais o ex-ministro Delfim Netto, que hibernara como embaixador em Paris, poderia ser convidado para a Agricultura. Impunha-lhe um veto suave: “Por que não Educação?” Delfim Netto fora o gestor do Milagre Econômico durante o governo de Garrastazu Médici (1968-1974) e sua reaparição no Palácio do Planalto abalaria o protagonismo de que Simonsen necessitava. Após convite de Figueiredo, a despeito da opinião de Simonsen, Delfim assumiu a pasta da Agricultura.
Para o novo Ministério do Interior, Figueiredo nomeou Mário Andreazza, tocador das superobras de infraestrutura que marcaram o Milagre, como a Transamazônica e a ponte Rio-Niterói. No entanto, não havia mais crédito disponível para o Brasil. Simonsen reclamava, por exemplo, do orçamento exorbitante requerido por Andreazza para tocar suas obras. Ironizando o ministro gastador, inventou uma unidade monetária de despesas, o “andreazza”. Um “andreazza” equivaleria à unidade dos recursos pedidos pelo ministro do Interior e valeria 1 trilhão de cruzeiros.
Em 1979, no primeiro ano do governo Figueiredo, a inflação superou os 80% e continuou fora de controle. Um péssimo início de governo. Simonsen estava ciente de que as coisas piorariam e pediu demissão com apenas cinco meses no cargo.
Ao se despedir de Simonsen, em sua última audiência no Planalto, Figueiredo perguntou-lhe: “Você acha que meu governo está uma merda?”. Simonsen respondeu: “Eu estou indo embora”.
Foto do destaque: Salomon Cytrynowicz/ Abril