Maquiavelismos do presidente
Em setembro de 1977, o general Fernando Bethlem, comandante da unidade mais poderosa das Forças Armadas na época, o III Exército, com sede em Porto Alegre (RS), assinou um “Relatório Especial de Informações” criticando a abertura política que estava sendo implementada no país pelo presidente Ernesto Geisel.
Em setembro de 1977, o general Fernando Bethlem, comandante da unidade mais poderosa das Forças Armadas na época, o III Exército, com sede em Porto Alegre (RS), assinou um “Relatório Especial de Informações” criticando a abertura política que estava sendo implementada no país pelo presidente Ernesto Geisel.
No documento, confidencial, que circulou pelo Congresso Nacional e pelo alto escalão do governo, Bethlem condenava também os setores da sociedade que apoiavam o projeto. Em seu texto, o general os caracterizava como uma conspiração de banidos, intelectuais, jornalistas, padres e empresários que pediam a “volta ao estado de direito” para retornar “aos idos de 61-62 e 63, onde predominaram os desmandos administrativos, a corrupção moral, a inversão de valores, a quebra da disciplina, a desmoralização da autoridade, a demagogia, o ‘peleguismo’, o avanço dos comunistas e dos corruptos”.
O ministro do Exército, general Sylvio Frota, contava com as tropas de Bethlem em sua queda de braço com Geisel. Um mês depois, no entanto, Frota foi destituído do cargo e Bethlem, apesar do seu relatório, foi escolhido para comandar o Ministério do Exército. “Eu precisava de um ministro fraco”, explicaria Geisel anos depois, acrescentando: “Ali foi necessário algum maquiavelismo”.