Discurso rascunhado por Golbery para a posse de Geisel (transcrição)
MENSAGEM DE 15 JAN 73
Ao ser legitimamente eleito pelo Colégio Eleitoral, aqui convocado em Brasília, segundo o processo democrático da eleição indireta que a Constituição Federal de 1967, em sua alta sabedoria, instituiu, para o exercício da Presidência da República no próximo período governamental, sejam minhas primeiras palavras, as de uma mensagem cordial, impregnadas de verdade e de franqueza, ao povo brasileiro, do qual me declaro, desde logo, o servidor número um, em termos de responsabilidade, tão ampla quanto árdua, que em plena consciência assumo.
MENSAGEM DE 15 JAN 73
Ao ser legitimamente eleito pelo Colégio Eleitoral, aqui convocado em Brasília, segundo o processo democrático da eleição indireta que a Constituição Federal de 1967, em sua alta sabedoria, instituiu, para o exercício da Presidência da República no próximo período governamental, sejam minhas primeiras palavras, as de uma mensagem cordial, impregnadas de verdade e de franqueza, ao povo brasileiro, do qual me declaro, desde logo, o servidor número um, em termos de responsabilidade, tão ampla quanto árdua, que em plena consciência assumo.
À missão recebida dedicarei o máximo de minhas forças e toda a minha capacidade de julgamento e decisão, sem que dela hajam de desviar um milímetro sequer – assim o queira Deus – impulsos quaisquer, por mais generosos, de amizade ou do coração, de comprometimento a vínculos de interesses, credos, profissão ou berço.
Sei que nunca poderei agradar a todos e que, certamente, haverei de descontentar a muitos, tão complexo é o tecido de ideais, interesses e paixões conflitantes em que se estrutura uma Nação, sobretudo quando seiva nova, vigorosa, a impulsiona em busca de seu destino maior. Entendo mesmo que das maiores qualidades de um governante é saber dizer “não” a pressões que lhe pareçam intempestivas ou sobretudo, em sã consciência, se lhe afigurem ilegítimas. Mas dever não menor será, por outro lado, o de estar aberto a quaisquer pleitos, sugestões ou críticas, merecedoras todas de acolhida igual para exame sereno e imparcial da verdade que contenham.
Governo aberto, almejo assim venha a ser o meu, no sentido de abrir e manter, arejados sempre, múltiplos canais de comunicação com as elites políticas e técnicas, a intelligentzia sempre trepidante das mais nobres insatisfações, a mocidade incontida embora em seus arroubos de idealismo por vezes transbordantes, todas as minorias autenticamente representativas e responsáveis do país e mesmo, partindo do rincão mais remoto, a voz individual de qualquer cidadão ferido em seus direitos ou clamando por justiça, de modo que a ação governamental se inspire e oriente e avance ao reflexo de um diálogo elevado e mutuamente respeitoso entre governantes e governados, cada qual participando, e com a alavanca de suas energias e a mais pura de suas intenções, na construção desse Brasil que ainda chegará a assombrar o mundo em alguma era do futuro.
Para tanto, estamos realmente atingindo, graças, em parcela larga, à clarividência e tenacidade dos governos da Revolução de 64, uma sólida e ampla base de partida para nos autorizar, sem devaneios vão nem autoconvencimento irrealista, a confiar num futuro próximo de grandeza, de paz e de justiça social que assegure, afinal, em nossa terra, clima salutar à plena expansão da potencialidade humana de cada cidadão brasileiro, sem privilégios indevidos, sem constrangimentos arbitrários. Seja esse o legado de nossa geração às gerações futuras, à grande, à imensurável maioria, em parte de todo invisível ainda, que de nós que lhe damos a vida, tem o direito irrecusável de esperar algum sacrifício generosamente criador.
Não que me pareça, a esta altura do evolver nacional e à luz dos resultados até agora irretorquivelmente alcançados, seja o caso de conclamar-vos a sacrifícios maiores, inadiáveis, prolongados, duros, em prol do futuro da Pátria. Nem deixaria ou deixarei de fazê-lo, justificadamente, se emergência ocorrer que o venha a exigir.
Mas julgo, em verdade, podermos confiar tranquilamente nos dias de amanhã, justamente esperançosos de que nada mais deterá a incansável progressão ascendente da Nação brasileira a níveis cada vez mais elevados e confortáveis de desenvolvimento político, econômico e social.
Certo é que o mundo todo, em derredor, começa a enfrentar uma quadra difícil da história da humanidade, seja pela crise generalizada de energia que já desponta em termos de escassez e custos tremendamente acrescidos de um sem-número de matérias-primas e de produtos essenciais, seja pela instabilidade ainda presente, ameaçadora, no panorama das relações internacionais, tanto no quadro político, ideológico e militar como no econômico-financeiro, seja ainda pela onda de violência indisciplinada, destruidora, e mesmo irracional, que abala os alicerces da vida das nações, nos mais variados quadrantes do globo – de tais sismos não se podendo furtar o Brasil de suas danosas e múltiplas repercussões, inserido como se acha, e cada dia mais estreitamente, no contexto cada vez mais entrelaçado e interdependente da conjuntura internacional.
Não obstante, no período sem dúvida difícil, embora não crítico, talvez, da vida nacional em que já ingressamos de fato, fazendo isto, apenas, não seja ele de longa duração, tudo indica que o poderemos transpor galhardamente, graças à potencialidade de nossa terra e, principalmente, à energia ora desperta de nossa gente, de uma extensão a outra desta pátria imensa. Basta que se apele tão somente, sem excessos de sacrifício, a um atento e pragmático senso das mais justas prioridades de ação, através de um planejamento racional e coerente que nunca prejudique o amanhã em troca de benefícios imediatistas, à perseverança e continuidade na execução de planos [ILEGÍVEL] e a uma conduta sempre austera, inimiga alerta e consciente de toda ostentação e dos desperdícios e esbanjamentos sempre irresponsáveis e imprudentes.
Nesse particular, tenho por que confiar largamente nas virtudes nunca desmentidas do povo genuinamente patriota, trabalhador e frugal de nossa terra. E espero, de outra parte, confiem também em mim e na equipe que selecionarei para auxiliar-me na pesada tarefa governamental que se me depara, com vistas ao coroamento da obra extraordinária que desde 1964 se vem realizando neste país, sem desfalecimento nem pausas, muito menos irreparáveis retrocessos.
A eficiência que desejo possa alcançar o meu governo, contando com a participação vigilante da grande maioria do povo brasileiro, não temo possam-na prejudicar insignificantes minorias de descrentes ou apáticos, derrotistas, subversivos ou corruptos. Por isso, não nos desviaremos da obra superior de reconstrução nacional e que devotaremos cada minuto de todas as horas e cada cruzeiro bem contado dos cofres públicos, por uma caçada às bruxas, sempre negativista e, na verdade, contraproducente por si mesma. Exemplar e pronta contenção de qualquer veleidade caracterizadamente subversiva de qualquer ato de corrupção que venha ao conhecimento do Governo, bem como a coibição enérgica de toda violência ilegal, partida de onde ou de quem partir – bastarão, assim o creio, para resguardar o ambiente de tranquilidade social, de estabilidade e de ordem, indispensável à marcha ascensional do país e que às autoridades públicas lhes cumpre assegurar como um de seus mais indeclináveis, se bem que penosos, deveres.
Para isso, também, nunca buscaria dispensar a compreensão de todos os bons brasileiros, que, nas fontes profundas de seu civismo e de sua fé nos valores éticos e sociais, bem se dão conta do que a estabilidade e a ordem representam como penhores essenciais do progresso nacional.
Pois ordem e estabilidade espero poder garantir-vos, a partir da dedicação integral com que me darei à tarefa que, para suprema honra minha, ora me é confiada, de conduzir este Brasil, tão caro a todos nós, em mais um largo e seguro e decisivo avanço para seus mais altos destinos de Grande Nação, próspera e coesa, generosa e justa.