Carta do coronel Antonio Carlos de Andrada Serpa ao general Ernesto Geisel (transcrição)
Do Serpa
Confidencial
Ministério da Guerra
Estado Maior do Exército
Do Adido Militar em Paris
Meu caro General Geisel
Saúde e paz!
Graças a Deus vamos bem, embora para a mulher e as quatro crianças numa fase de adaptação mais ou menos dura; – para aquela nos lides caseiros e para estes nos estudos.
Eu teimando em raciocinar em termos de Brasil e, assim, devorando as notícias dos jornais e sempre inquieto em relação aos rumos e à permanência de nossa Revolução.
O caso mais grave é, para mim, vencido o conteúdo e reconhecido caso goiano (desde a primeira hora) é o da institucionalização da Revolução, através de leis que deem intimidade ao que tem sido feito até agora.
Do Serpa
Confidencial
Ministério da Guerra
Estado Maior do Exército
Do Adido Militar em Paris
Meu caro General Geisel
Saúde e paz!
Graças a Deus vamos bem, embora para a mulher e as quatro crianças numa fase de adaptação mais ou menos dura; – para aquela nos lides caseiros e para estes nos estudos.
Eu teimando em raciocinar em termos de Brasil e, assim, devorando as notícias dos jornais e sempre inquieto em relação aos rumos e à permanência de nossa Revolução.
O caso mais grave é, para mim, vencido o conteúdo e reconhecido caso goiano (desde a primeira hora) é o da institucionalização da Revolução, através de leis que deem intimidade ao que tem sido feito até agora.
Daí a importância da ampliação do Supremo, como medida paliativa do expurgo irrealizado. Nessa hora peço ao sr. não esquecer o nome do Prudente de Moraes, voto que luta conosco, através todas as vicissitudes, há vinte anos, e, principalmente, de 1954 para cá.
Em verdade o sucesso da Revolução só será consagrado pelo êxito da política econômica do Governo. Assim, penso se justificar, plenamente, a firmeza do governo no essencial dessa política. A História já o disse: – o difícil não foi o saneamento do Rio por Osvaldo Cruz, mas sim a existência de um estadista, como Rodrigues Alves, apoiando o seu auxiliar. O mesmo em relação a Joaquim Murtinho e a Campos Sales.
Nada obstante, enquanto não aparecerem os frutos dessa política torna-se indispensável a institucionalização da Revolução através o conjunto de reformas e leis que vão sendo promulgadas, todavia que, sempre hão esconder, deixarem de lado o campo da Justiça: – os juízes julgam de acordo com as leis; e os juízes rotineiros de acordo com as velhas leis; e, finalmente, os juízes comunistas e contrarrevolucionários levem os tribunais a torcerem as leis de acordo com as suas convencionais políticas.
Antes de partir apresentei a 2ª seção do E. U. o trabalho que envio, em partes ao sr. sobre a conjuntura nacional da França. O Gen. de Gaulle só assumiu o poder com a Constituição da República que fez o seu Executivo muito mais forte do que os Executivos sul-americanos, e, particularmente, o nosso: – por um paradoxal absurdo este, após uma Revolução vitoriosa. Tudo que está entre aspas nesse trabalho são os comentários de [ILEGÍVEL], professor da Sorbonne, realizados em conferências proferidas em Belo Horizonte, em 59 e 60, e constam de uma revista política editada, mensalmente, em Belo Horizonte. É muito interessante a comparação que poderá ser feita entre as opções de de Gaulle em 58 e as da nossa Revolução. Como de Gaulle o nosso Presidente escolheu o caminho mais difícil, mas, infelizmente, não tivemos, ainda, a realização feita por de Gaulle, desde a primeira hora, da proteção de uma legislação [ILEGÍVEL] com a possibilidade e a necessidade da Revolução durar.
O mesmo quanto à licença do Rádio e da Televisão no Brasil e a sua sujeição absoluta ao Governo na França. Daí não ter sido necessário, aqui, nenhum amordaçamento da Imprensa, embora, sejam rotineiros os processos contra os jornalistas por ofensa ao Presidente. Ainda, aqui nesse setor, a diferença está no fato de que, na França, os jornalistas são processados e condenados a prisão e multas, porque, naturalmente, os juízes julgam de acordo com a legislação. Ora, sendo a grande imprensa, como a Rádio e a Televisão representantes, em todos os países democráticos, dos grandes grupos de pressão econômica, como julgar injustificável, tenha, também, o governo os seus meios de apresentar ao povo a sua verdade, isto é a defesa de sua política?
Parece-me, mais justo, seja isto feito por intermédio da legislação apropriada, do que usando os conhecidos processos corruptores do Juscelino e Jango.
Pelo que vejo a repercussão internacional foi a da Revolução, em si, havendo nos velhos países a compreensão de que alguma louça tem que ser quebrada...
Quanto à permanência do canalha em Montevideu, parece-me, das coisas graves a enfrentar, pois, aqui o mal que podem fazer é muito menor, apesar do grosso dinheiro que podem espalhar para a permanência de uma visão deformada da Revolução e, principalmente, da possibilidade de um retorno...
Esta, a meu ver, a explicação de romana de deputados e senadores pessidistas e trabalhistas a Paris, para trazer a colher de chá para o Juscelino. Todos o fazem, mesmo os que de retorno vão apresentar ao Sr. e ao Marcelo os costumeiros protestos de fidelidade e amor. Quanto menor a firmeza com ele, no Brasil, e tanto maior o volume aqui desses visitantes, turistas por conta da Nação. Querendo saber quem são é só pedir ao José Bonifácio a lista dos em comissão no Exterior...
São as coisas que me ocorrem dizer, fazendo votos pela sua saúde, da exma. família e do Governo por quem tanto pelejamos o bom combate pelo Brasil.