As aleivosias do general Hugo Abreu
O general Hugo Abreu, chefe do Gabinete Militar durante o governo Geisel (1974-1979), gostava de redigir avaliações sobre a situação política no país às quais dava o título de “Informação ao Sr. Presidente”. Em duas delas, escritas em 1977, pediu a cassação de deputados “radicais” do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime.
O general Hugo Abreu, chefe do Gabinete Militar durante o governo Geisel (1974-1979), gostava de redigir avaliações sobre a situação política no país às quais dava o título de “Informação ao Sr. Presidente”. Em duas delas, escritas em 1977, pediu a cassação de deputados “radicais” do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime.
Na primeira “Informação ao Sr. Presidente”, de 29 de março, Hugo avalia a dificuldade de aprovar uma reforma no Judiciário sem o apoio do MDB: devido ao resultado das eleições de 1974, a legenda continuava minoria no Congresso, mas agora com força suficiente para barrar emendas constitucionais. O general então sugeria que se adotassem “medidas revolucionárias”. Ou seja: caso no dia a dia o MDB não colaborasse com a aprovação das eventuais emendas, que elas fossem aprovadas em ato complementar, com base no AI-5. Além disso, que se cassasse também o mandato “dos elementos radicais do MDB”.
A resolução do conflito no Congresso entre o governo e o MDB veio com a sanção do chamado “Pacote de Abril”: o Executivo legislou com o Congresso fechado e as medidas adotadas preservaram a força eleitoral e política da Arena (partido de sustentação do regime), bloqueando o avanço do MDB. No entanto, não houve nenhuma cassação.
Dois meses e meio depois, em 13 de junho, Hugo Abreu novamente sugeriu a Geisel que cassasse parlamentares. Dessa vez, citou nomes: os deputados federais Marcos Tito, Airton Soares e Santilli Sobrinho; e os deputados estaduais Edison Khair (RJ) e Alberto Goldman (SP), todos acusados de envolvimento com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que sobrevivia de forma clandestina após ter sido declarado ilegal pela ditadura.
Ao ler o documento, Golbery, chefe do Gabinete Civil, escreveu a Heitor Ferreira, secretário do presidente, pedindo que os textos de Hugo Abreu fossem arquivados: “O Hugo voltará à carga algum dia, com suas aleivosias. Convém preparar um arquivo com documentos como este”.